23 de junho de 2014

A copa e as marcas

Esta é uma copa que começou com um gol contra. O termo "gol contra" aliás não tem hífen. A palavra "contra" só pede o sinal gráfico quando vier na forma de prefixo, como em "contra-ataque". Nem sei se "gol contra" é adequado, posto que um gol será sempre contra uma equipe. Para explicar que o gajo fez um gol contra o próprio time talvez nos servisse a expressão "autogol", usada em Portugal.

Isso posto, e por falar em termos, volto a afirmar que o legado desta copa será o termo "Arena". Já se disse aqui que "estádio" virou "arena". Bem lembrado por Roberto Pompeu de Toledo, o templo grego onde se exibiam competidores ali levados à condição de artistas foi transformado no domo romano onde leões comiam pessoas. A mudança de termo faz sentido, já que as arenas romanas inauguraram a política do "pão-e-circo". Vai deixar saudade o brasileiríssimo "campo", herança dos templos do futebol de várzea que se resumiam a um descampado no máximo com um alambrado retorcido em volta e um boteco atrás de um dos gols.

Alguns jogadores, estão se transformando em marcas, mas apenas comerciais. Cristiano Ronaldo virou CR7. Pode até ser uma marca no futebol, mas precisaria de mais tutano para chegar a isso. Nem na copa passada, e pelo visto nem nessa, CR7 passa sequer a impressão de que joga sozinho.  Sim, o moço é bonito e joga o fino no Real Madri, mas na seleção portuguesa tem ficado mais para Beckham que para Luís Figo. 

Nada contra o gel no cabelo. Heleno de Freitas, 60 anos atrás, comemorava seus gols tirando um pente do calção e arrumando o topete. Perto dele, CR7 tem a marra de um seminarista.


É uma pena que vá embora, porque com ele vai uma parte do assunto. Neymar está com o mundo nas costas, Messi tem um carisma de bilheteiro de cinema - sem contar que não ia pegar bem um argentino "M10" depois do Maradona. Baixinhos carecas, como o holandês Sneijder e eu damos pouco retorno de mídia. O alemão Schweinsteiger teria, com um nome desses, poucos recursos publicitários. E Ballotelli da Itália dará uma excelente marca quando aprender a sorrir.

As precoces (?) eliminações de Inglaterra e Uruguai(*) só comprovam que se tratam de marcas que resistem ao tempo sem ninguém saber muito porquê. Algo como a Kombi (essa já foi também), a Minâncora e o Bob´s.

A notícia desta primeira fase é a marca que está indo embora, não só da copa, mas do futebol: o tiki-taka espanhol. Campeões do Mundo na base do 1 x 0 em 2010, com direito a derrota para a Suíça, eles provaram que a genialidade pode ser um troço extremamente chatonildo. Vão cedo de volta pra casa. Mas já vão tarde.

Nas oitavas começam a pesar as marcas que interessam e que fazem diferença , que são as camisas tradicionais. Noves-fora a Costa Rica que pode aprontar nessa copa o que a Turquia fez em 2002 e a Croácia fez em 98, teremos poucas surpresas.

E no final da copa, quando Lahm erguer o tetracampeonato alemão, ficaremos com a principal marca brasileira: a de que essa copa poderia ser a mais esculhambada, zuada e desorganizada de todas, mas que entre o previsto e o entregue até que saiu bonitinho...

(*) nota do editor: na data da publicação deste texto o Uruguai ainda têm chances de classificação. 

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