31 de dezembro de 2014

Vem aí o ano de 2015…

Antes que você pense que este post está sendo escrito pouco antes da virada no ano, não se engane: eu programei a postagem para dez minutos antes do ano novo. Na verdade, eu comecei a escrevê-lo no dia 27/12… e a cada dia estou melhorando o texto. Provavelmente neste momento estou com minha baixinha no colo…

Então… vamos ao texto…

2014_2015

É uma tradição para mim o texto de final de ano. Desde 2011 eu faço um registro por escrito daquilo que foi o ano atual e aquilo que espero para o ano seguinte. Curiosamente, ao ler meus textos de 2011, 2012 e 2013 eu percebi que não escrevi se cumpri a meta de fato ou não. Bom… pretendo fazer isto agora.

O ano novo para 2012…

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Em 2011, eu escrevi sobre as tais metas que minha então noiva propôs. Tudo começou com a pergunta sobre minha lista de metas para o ano seguinte. Então estabeleci algumas coisas:

  1. Casar
  2. Emagrecer
  3. Pagar as contas
  4. Estudar
  5. Trabalhar

Destas eu cumpri a meta do casamento… eu e Ana Paula juntamos as escovas em 16/03/2012. Eu até escrevi sobre isso aqui no blog. Construímos uma casa, reformamos parcialmente outra… algumas coisas deram certo, outras não… Mas casamos.

Não emagreci e também não estudei. Refrigerante continuou sendo meu mal maior e a faculdade ficou trancada por um bom motivo… queria curtir meu primeiro ano de casado.

As contas foram, digamos, remediadas. Não fiz nenhuma loucura, mas fiquei longe de fazer um pé-de-meia. Trabalhei como um camelo e apanhei um pouco até trocar de escola no mês de Setembro. No final, tudo se ajeitou.

O ano novo para 2013…

2012-2013

Cheguei ao final de 2012 fazendo uma auto-crítica…

Normalmente escrevo de forma geral sobre os acontecimentos do ano, faço uma reflexão sobre erros e acertos e encerro com um planejamento otimista para o ano seguinte. Ultimamente, isto não tem funcionado
(Ricardo Marques in "
Vem aí o ano de 2013")

Era a mais pura verdade. Eu planejava, mas não dava segmento ao planejamento. Assim, fui econômico nas palavras e tentei ser prático. Naquele ano, planejei o seguinte:

  1. Acertar a organização da escola
  2. Retornar à faculdade de biologia
  3. Providenciar o herdeiro (ou herdeira)
  4. Acertar as contas

Ainda terminei meu planejamento de modo combativo: "Estou pronto para você, 2013".

Que moleque arrogante eu fui…

Não acertei a organização da escola, mas pude colocar muitos dos meus valores em prática. Comprei algumas boas brigas com alguns funcionários que estavam entregues ao marasmo que muitas vezes os anos de trabalho nos impõe. Faltou bastante coisa, é verdade… mas muita coisa melhorou também.

Também retornei à faculdade. Mas desta vez o tempo – ou melhor, a falta de organização do meu tempo – foi o vilão da vez. Levei a faculdade de modo sofrível. Passei em algumas disciplinas, fiquei em outras. No geral, saldo positivo. Mas ao final de 2013, tive que fazer uma mudança de planos: com a possibilidade de um curso superior em gestão pública oferecido pela Univesp, acabei solicitando minha desistência do curso (a legislação não permite matrícula simultânea em dois cursos superiores em instituição de ensino pública). Estamos quase em 2015 e o tal curso não vingou…

As contas mais uma vez fecharam… e apenas fecharam. E dizem que funcionário público ganha bem.

E não foi em 2013 que veio um herdeiro… mas hoje, tenho a impressão que não teria sido o melhor momento…

No final, tudo se ajeitou novamente.

O ano novo para 2014…

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Acho que fui um pouco melhor no final de 2013…

Hoje a noite, desligarei o computador, tomarei um banho e estarei em minha casa, com minha esposa e meus filhotes peludos. Passaremos a virada do ano aqui. Comerei lentilha, brindarei com espumante, comerei gelatina colorida feita por mim e esperarei por mais um ano em minha vida. Como em todos os outros anos, será um ano com algumas bençãos (espero que muitas) e algumas provações (espero que apenas as necessárias). E caberá a mim – e somente a mim – tornar 2014 um ano bom.
(Ricardo Marques in "
Vem aí 2014")

Separei em meu texto as minhas metas em cada área importante da minha vida: Pessoal, Acadêmica, Profissional e Econômica. Finalmente eu criei vergonha e escrevi um pouco sobre o ano anterior. E digamos que fui mais realista…

Enfim, no final das contas, não tenho do que reclamar… e você entenderá o porquê nas linhas a seguir…

Vida Acadêmica

Em 2014 eu vivi um dilema. Larguei a Biologia na USP ao final de 2013 por conta do curso em Gestão Pública a ser oferecido pela Univesp a partir de 2014. O curso não aconteceu. Mas mesmo que acontecesse, eu não poderia fazê-lo. Como eu já tenho curso superior, estaria excluído da seleção inicial. Então larguei a USP à toa.

Como compensação, o curso não aconteceu. Mas no segundo semestre, a Univesp passou a oferecer o curso de licenciatura em Ciências Naturais e Matemática na modalidade à distância. Melhor do que ir todos os dias até o Butantã… Assim, fiz o vestibular e ingressei no curso da Univesp. Tenho até um blog específico para isso. Se puder, faça uma visita.

Vida Econômica

Novamente, um remediado… mas finalmente as grandes dívidas da construção da casa estão terminando agora em 2015. Acho que poderei finalmente pensar em um pé-de-meia.

Vida Profissional

Foi um ano – digamos – pertubador. Na escola em que trabalho houve uma guinada administrativa no final de 2013 e a gestão que assumiu acabou por cometer alguns equívocos e deslizes. De certa forma foi bom porque por várias vezes pude testar minha capacidade diante de adversidades.

No final do ano, uma nova mudança administrativa… e lá vou eu para o meu sexto diretor de escola. Por enquanto, tudo vai bem e as coisas parecem tranquilas.

O que posso dizer de bom? Oras… diferente do que foi dito por alguns, tenho finalmente a certeza de que não sou um Gerente de Organização Escolar tão ruim assim… Aliás, devo ser bom. Tem muita gente melhor do que eu por aí, tenho consciência disto, mas hoje sei que dou conta do recado.

Ah… também descobri que existem muitos idiotas na rede. Pessoas que não honram com sua palavra. Verdadeiros "sem-caráter". Mas isso tem um lado bom também. Graças a isso, pude extirpar alguns contatos da minha vida que nada agregariam a ela…

O blog não é bem uma realização profissional (é mais um hobby, mas não há uma categoria para isso). Mas tenho orgulho em dizer que consegui transformar o blog em um canal bacana de opinião. São quase 40 mil acessos e conto com grandes colaboradores (Um grande abraço ao Michel, ao Júnior e ao Lucas que sempre emprestam seu talento ao blog). Crescemos… e vamos crescer mais.

Vida Pessoal

Eu estaria sendo um verdadeiro canalha se não afirmasse categoricamente:

ESTE FOI O MELHOR ANO DE MINHA VIDA…
FOI O ANO EM QUE MINHA FILHA MARIANA NASCEU

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Na vida pessoal eu não posso reclamar de nada… meus pais estão bem e com saúde. Minha esposa me deu uma filha linda. Meus peludos estão mais fofos do que nunca. E minha filha é linda. Simplesmente linda…

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Sinceramente, não me importa se eu entrei e depois perdi a medicina, se tomei um pé na bunda de namorada quando estava na faculdade, se algum diretor brigou comigo no trabalho, se anteriormente tive empregos pouco gratificantes, se não consegui trocar de carro... Nada mais disso importa. Deus me deu uma benção… talvez a maior de todas. Eu não tenho mais o direito de reclamar da vida.

Ah sim… sabem qual a palavra mais linda do mundo? Eu sei… é Agú.

E qual é o saldo de 2014?

É amplamente positivo… eu voltei a estudar, consegui manter minhas contas sobre controle, nasceu minha filha, cultivei as amizades que gostaria de manter de verdade, ampliei o público do blog. Tá certo que eu não emagreci, não troquei de carro, não comprei um Xbox One e também não trabalhei bastante a questão da religião. Mas fiz o possível para que o ano fosse um ano bom…

E foi…

E para 2015?

Vou usar a mesma frase que usei no final de 2013:

Recebemos as bençãos e as provações em igual medida… cabe a nós decidir qual a porção que cada uma delas ocupará em nossas vidas
(Ricardo Marques in "Vem aí 2014")

Eu sei aquilo que quero… quero cuidar bem da Mariana. Quero fazer um bom ano na faculdade. Quero fazer algumas economias… quem sabe finalmente trocar de carro. Quero fazer alguns mimos para minha esposa (um Lumia novo!), um mimo para mim (Xbox One… uaba, uaba, uaba!) e muitos mimos para minha filha.

Quero também emagrecer… já fui quase atleta. Fui magro… então posso retornar a uma parte disso. Quero deixar os refrigerantes também. São um vício… que não quero que minha filha tenha.

Quero um ano tranquilo na escola… quero dar conta do meu trabalho. Quero fazer o que tem que ser feito.

Quero manter o blog. Se possível com mais textos…

Quero manter os amigos e deixar de ter inimigos.

Quero, enfim, que 2015 seja muito abençoado e com as provações necessárias para que eu seja uma pessoa melhor.

Então é isso… obrigado por tudo, 2014.

Vamos lá, 2015… está na hora de nascer.

25 de dezembro de 2014

Um novo Natal…

Já virou moda… é noite de Natal e eu escrevendo um texto influenciado por esta época comemorativa. Normalmente escrevo antes da noite de Natal… em razão das novidades deste ano, preferi escrever após a noite de Natal.

No ano passado, assim escrevi:

Hoje, de certa forma, é o meu primeiro Natal. O primeiro Natal que vou passar na minha casa com minha família. Ainda faltam meu pai e minha mãe nesta mesa. Já passei outros natais com a Ana Paula, mas este é o primeiro que é “nosso”. Na nossa casa, com nossos filhotes (por enquanto os peludos… Meg, Mike, Nina e Tobias) mas quero muito que no ano que vem nosso primeiro filho esteja comemorando o Natal aqui em casa.

(Ricardo Marques, in "Natal…")

Pois é… Nosso primeiro filho… no caso nossa primeira filha…

Foi uma noite de Natal como muitas outras: uma mesa farta para a ceia, a tradicional troca de presentes, pessoas comendo, bebendo, conversando, confraternizando.

O fato dela ser muito parecida com outras noites não quer dizer que ela não tenha sido especial. Foi…

Este foi o primeiro Natal que passei com minha filha Mariana.

E por isso, não posso reclamar… não tenho do que reclamar. Seria uma tremenda injustiça e uma ingratidão sem precedentes dizer que este ano não foi um ano bom. Eu ganhei um lindo presente não só para o Natal, mas para minha vida toda.

Eu ganhei Mariana…

Então, não vou fazer grandes reflexões ou sequer digressões (divagações) sobre como foi ou como poderia ter sido.

Apenas direi que hoje foi noite de Natal… pude estar com minha mãe, minha esposa, minha filha e meus peludos. Todos com saúde e bem. Não foi desta vez que meu pai veio, mas já acostumei com o jeitão dele.

Pude dar e receber presentes. Pude ter uma mesa farta. Pude ficar com minha família e poderei falar deste Natal nos próximos anos que virão como um dos melhores que já tive.

Muitos que me conhecem sabem que não sou de ficar colocando fotos da Mariana na Internet. Não gosto da exposição que isto gera, então trato de colocar apenas uma ou outra foto apenas para satisfazer a curiosidade dos amigos.

Mas hoje é Natal… e foi o primeiro Natal que passei de fato em família… minha família. Então, oras bolas, farei uma exceção.

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Eu, mamãe e Mariana

InstagramCapture_368ea659-f8c4-4056-b495-c46571b7c8a6Eu, Ana Paula e Mariana

Feliz Natal!

22 de dezembro de 2014

O pequeno Igor

O plantão seguia corrido naquele pronto-socorro de hospital público de periferia. Gente tentando fazer o máximo de si mas sendo contestada o tempo todo. Gente fazendo corpo mole e sendo contestada também, menos por si mesma - o que faz toda a diferença. Pacientes e familiares gritando impropérios, principalmente o tautológico "vou precisar morrer para ser atendido?", sem se tocar que uma vez morto, o atendimento se faz dispensado.

E em meio a este barulho, eu. Atendia a casos da clínica médica e estava no consultório orientando um paciente, quando um menino de seus sete, oito anos acorreu à porta:

"O senhor pode ver meu pai?"

Esse tipo de pedido acontece aos borbotões em cada plantão. Mas nunca feito por uma criança. Adiantei que teria que terminar com aquele paciente da sala, e que depois iria.

"Mas meu pai está sentido muita dor!"

Como já esperava a insistência, a única surpresa que tive foi a de que aprendiam cedo. Continuei a conversa:

"Como é seu nome?"

"Igor"

"Pois é, Igor, dá só um tempinho que prometo que vou ver seu pai. Se eu sair agora, o moço aqui vai ficar bravo!"

Igor assentiu e saiu dali. 

Terminei a consulta alguns poucos minutos depois e saí da sala, quando senti, após alguns passos, alguém do meu lado.

"O senhor prometeu ir ver o meu pai."

"Tem razão, Igor, como ele se chama?"

A ficha com o nome do pai dele não se encontrava na caixa das que esperavam por atendimento. Perguntei à secretária, que disse ser um caso para a ortopedia, visto que se tratava de fraturas múltiplas. Por razões que não vem ao caso aqui - até porque eu não saberia explicá-las - os ortopedistas estavam todos fora dali, em cirurgia, naquele momento. Maquinalmente, dei a satisfação ao menino.

"Olha, Igor, seu pai quebrou alguns ossos. Ele precisa que o doutor dos ossos o veja. Eu não sou o doutor dos ossos, entendeu?"

"Entendi."

E fez uma cara de desapontado e olhou pro chão. Virou os olhos para mim e perguntou...

"Mas quem é o doutor que tira dor? Porque meu pai está com muita dor..."

Esbofeteado pela pergunta, só me restou pegar a ficha na caixa da ortopedia e acompanhar Igor.

Ele me mostrou um homem que aparentava quase cinquenta anos, ainda que a ficha lhe desse a idade de trinta e poucos. Estava em andrajos, sujo e malcheiroso, deitado em três cadeiras de plástico encostadas que serviam de cama. Os olhos injetados, a testa sudoreica, a respiração ofegante e o tremor por todo o corpo não deixavam dúvida do uso abusivo do álcool. Tentei confirmar com Igor:

"Esse é seu pai?"

"Sim. É meu pai."

E o menino me lançou pela primeira vez um olhar de revolta. Não satisfeito, continuei...

"Você mora com ele?"

"Moro. Ele é que não mora muito comigo."

E respondeu com a mais absoluta das serenidades, como se respondesse que a cor do céu é azul. Insisti...

"Ele chegou em casa assim?"

"Não. Um amigo meu veio me avisar que ele estava apanhando na rua porque tinha mexido com mulher dos outros. Eu fui pra rua e vi ele deitado na frente do bar. Tinham batido nele com pau. Ele foi andando comigo até em casa e eu chamei o Samu."

"E como você fez para ligar?"

"Do telefone da minha tia."

"Você mora com sua tia também?"

"Não, ela mora no mesmo quintal."

"E cadê sua tia, Igor?"

Ele baixou a cabeça nesse momento e não a erguia por nada. Perguntei de sua mãe e ele ficou cabisbaixo, firme, sem nada responder. Achei por bem parar por ali.

"Bom, Igor, nós vamos tirar a dor do seu pai, está bem? Vai dar tudo certo, e quando o doutor dos ossos chegar seu pai estará bem melhor!"

Igor fez um sinal de "sim" com a cabeça e sem me fitar sentou-se numa das cadeiras ocupadas pelo pai, colocando a cabeça no seu colo. Avisei a enfermagem da medicação e voltei aos atendimentos.

Algo como duas horas depois, apareceu o ortopedista. Fiquei contente em vê-lo, mas não vi Igor. Meia hora depois ele estava em minha porta. Eu estava digitando pedidos de exames e ele se mantinha estático a me olhar.

"Igor, o que o doutor dos ossos te disse?"

"Ele não viu meu pai."

"Como não? Ele acabou de passar por aqui!"

E continuei digitando… Igor continuava na porta do consultório sem se mover. Levantei-me e de pronto descobri o erro: como eu havia prescrito o analgésico, a ficha foi parar na minha caixa como se fosse um retorno. Quando o ortopedista passou por lá, obviamente não havia nada do pai de Igor em sua caixa, e ele foi embora novamente.

Avisei à recepcionista do ocorrido, com a rispidez necessária para que Igor percebesse o fato. Mostrando desolação, contei ao menino:

"Igor, a gente vai ter que esperar o doutor dos ossos voltar. Ele veio, mas a ficha do seu pai não estava na caixinha dele, sabe? Então agora eu a coloquei e quando ele vier, vai dar tudo certo!"

Ele ficou me olhando fixamente, sem expressão no rosto. Entrei na sala para chamar outro paciente e Igor entrou atrás. Foi incisivo:

"O ortopedista foi embora por erro de vocês. Tem que chamar ele pra voltar logo!"

Olhei para ele intrigado. Ora, quem foi que disse a ele que o nome do doutor dos ossos era ortopedista? E quem disse que eu errei?

"Igor, logo o ortopedista volta. Agora eu preciso que você espere lá fora. Eu preciso atender."

E o menino não saiu da sala… Restou-me levantar de onde estava.

"Tá bom, Igor, foi erro nosso. Eu vou chamar o ortopedista. Você me espere aqui, certo?"

Atravessei o recinto e cheguei aos elevadores. Entrei num deles e quando a porta estava para fechar, uma mãozinha a pouco mais de um metro acima do chão barrou o fechamento. Igor entrou me olhando com aquele rosto firme já familiar. Chegamos no andar e achei o colega ortopedista. Expliquei o caso para ele e o apresentei a Igor, que por sua vez não esboçou reação nem quando recebeu dele um carinho na cabeça.

Descemos e me dirigi à sala. Alguns minutos depois uma enfermeira interrompeu e me perguntou se eu conhecia um menino que dizia ter um pai com ossos quebrados. O problema é que esse menino resolveu se postar na frente da caixa da ortopedia. Nada o tirava dali e um segurança estava começando a erguer o tom da voz. Eu disse a todos que o menino continuaria ali e que eu me responsabilizaria.

Muitos minutos depois escuto de dentro do consultório um barulho de gritos. Olho para fora e vejo todo mundo, desde a recepcionista, o segurança, passando pelo pessoal de enfermagem e até alguns pacientes, todos apontando vivamente para Igor. Saí da sala e vi o ortopedista retirando a ficha que finalmente estava na sua caixa. Ele falava com Igor, que lhe respondia com os olhinhos vivazes e piscantes. Vi os dois indo em direção ao pai do garoto.

Dali a pouco, ouço uma forte batida na porta. Era Igor, mas desta vez sorria. Atrás dele estava seu pai em uma cadeira de rodas, de banho tomado, roupa de hospital e braço enfaixado. Sorri para Igor, que me sorriu também e me fez com a mão um sinal de positivo. Respondi sorrindo, retribuindo o "jóia" com a mão.

No meio da madrugada, as coisas amenizaram e resolvi subir à enfermaria de ortopedia. Não foi difícil divisar em meio ao emaranhado da ala, um menino encolhido numa poltrona do lado de uma cama onde um homem se debatia vagarosamente. Cheguei mais perto, e vi que o pai de Igor tentava se livrar de um lençol, mas o corpo trêmulo e o braço enfaixado não o ajudavam. Ele me olhou e sorriu, e antes que eu tivesse qualquer reação, uma auxiliar de enfermagem retirou-lhe o lençol e cobriu Igor. Ele finalmente pode respirar fundo e adormecer em paz naquela poltrona desaconchegante.

Por um breve momento, três adultos contemplavam emocionados o sono sereno de uma criança. E aquele hospital onde tudo era violento, carente e esquecido pareceu ser tomado por uma luz irresistível, emanada do rosto de um menino que salvara o pai de um linchamento, não sabia onde estava sua mãe e nem dispunha da atenção do mundo, mas parecia falar diretamente com Deus.

7 de dezembro de 2014

Gram, obrigado!!!

Buenas.

E se do nada durante esse ano de 2014, você tivesse tido a notícia de que uma das suas bandas prediletas tivesse retomado às atividades após um hiato de sete anos com uma nova formação e
lançado um disco. Qual seria a sua reação?

E se além do disco novo, você tivesse a oportunidade de vê-los ao vivo num esquema pocket-show intimista? Você iria pirar, assim como eu pirei nesta quarta-feira, 03/12. Simples assim.

A princípio, estamos falando do Gram, banda paulista que já tem 4 discos lançados (já contando com esse novo) e que retomou as atividades nesse musicalmente mágico (ao menos pra mim) 2014. Nessa nova formação contam com os remanescentes Fernando Falvo (bateria), Marcello Pagotto (baixo) e Marco Loschiavo (guitarra), além do novo integrante, Ferraz (voz, violão e guitarra).

Acompanhando alguns sites especializados em música, descobri sobre sua volta e fui atrás do disco novo, e que grata surpresa. Tudo o que me fazia pirar na sonoridade dos caras estava lá, mas agora com uma nova roupagem, uma nova voz. Confesso que de início estranhei um pouco,mas ao ouvir o disco repetidas vezes, acabei curtindo demais a dinâmica da banda com a voz do Ferraz.

Mas vamos continuar, esse post não é pra fazer resenha do disco novo dos caras (já o fiz no meu perfil do Instagram, quem quiser, acessa ai), mas sobre o show que descobri que haveria na página
dos caras no Facebook. Era algo restrito, lista de confirmação de presença e tal. Pra poucas pessoas. Assim que tive a minha presença confirmada, bastou esperar ansiosamente.

Na quarta-feira (03/12), chegando lá, um grande estúdio na região de Pinheiros, não sabia o que esperar, como seria, o que tocariam,  seria só o disco novo? Só descobriria empiricamente. Enquanto
esperava o começo do show, os caras da banda transitavam pelo lugar numa boa, cumprimentando todo mundo, simpatia pura. Ainda antes da entrada, tive a oportunidade de trocar uma ideia com o Marco (um dos meus guitarheroes), sobre guitarras, equipamentos e sonoridades. Baita cara bacana e atencioso. Até que o mesmo Marco, nos chama pra dentro do estúdio e avisa que a brincadeira iria começar.

Abrem o show com o primeiro single do disco novo, "Sem Saída", mas a tocam com muito mais energia, muito mais pegada. Mesmo essa sendo uma música nova. já era cantada por todos, o que aumentou ainda mais o clima de proximidade entre a banda e o público. Durante o show, transitam por músicas de todos os discos ("Gram"/2004 e "Seu Minuto, Meu Segundo"/2006), e não há em
momento algum, qualquer comentário negativo sobre o jeito que o Ferraz canta essas canções. É engraçado, mas o cara está tão a vontade naquele lugar, que parece ter sido sempre ele a cantar aquelas músicas. Se adaptou às canções com uma habilidade absurda.

Mas o foco ainda é o disco novo, e essas canções funcionam muito bem ao vivo, mantem a essência do que é o Gram, mesmo sendo um novo Gram.

Em determinado momento, antes de começarem a tocar uma das novas, "Condição", Ferraz e Marco convidam a galera pra subir ao palco e se ajeitar por lá mesmo. Todo mundo aceita o convite e o palco passa a ser uma "roda de violão", tamanho clima intimista que a coisa passa a ter. Daí pra frente, não havia mais barreira alguma entre banda e público. Éramos pessoas, em um mesmo ambiente, apreciando uma das melhores bandas que a música brasileira foi capaz de nos proporcionar. Mas o ápice (ao menos pra mim), veio ainda depois.

Ao anunciarem a música que encerraria o setlist, a clássica "Você pode ir na janela", todo mundo se empolga e ela é cantada em uníssono por todos os presentes. Não satisfeito, Ferraz chama um cara da plateia pra cantar em seu lugar. Outro rapaz sobe também. Quando menos imagino, Marco, tira seu microfone do pedestal e o dá na minha mão, me chamando pra participar da festa.

Sensação indescritível.

Fazer parte da festa que foi, e ainda ter a honra de subir ao palco e participar do show de uma das suas bandas preferidas, é história pra contar aos netos.

O Gram nos mostrou que uma banda de verdade não é feita apenas por bons músicos, mas sim por gente de verdade, e por uma cacetada de virtudes que são raras nos dias de hoje: simpatia, humildade, veracidade, além do talento, que eles tem de sobra.

Fim de show, todos com sorriso de orelha a orelha, já sedentos pela próxima apresentação. Fotos, autógrafos e convite pra ficar e tomar mais uma com os caras (pena que já tava quase no fim do horário do metrô, senão ficava, com certeza).


Que 2015 nos reserve outras surpresas dessas.

Longa vida ao Gram!!!

Logo menos tem mais, até.


6 de dezembro de 2014

Um Centro Acadêmico para a Licenciatura Univesp?

Por conta de alguns problemas que estão surgindo no desenrolar na graduação em ciências naturais da Univesp, alguns colegas entendem que chegou a hora de criar um Centro Acadêmico para que os alunos possam recorrer na solução de seus problemas.

Creio eu que antes de qualquer ação prática, é necessário alguns esclarecimentos…

O primeiro deles é desfazer a confusão entre CA e DCE… Em uma Faculdade, existem algumas instâncias representativas. Pensando nos elementos que existem na constituição de uma faculdade, temos alunos, professores, funcionários e administração. Cada um destes segmentos tem sua representação. No caso dos alunos, o órgão representativo é o Centro Acadêmico (ou como alguns gostam, simplesmente CA).

Agora, em uma Universidade existem várias faculdades. E para cada uma delas há normalmente um centro acadêmico. Neste caso, existe uma instância superior ao CA que congrega representantes discentes de todas as faculdades. Neste caso falamos em Diretório Central de Estudantes. Então, pensando no nosso caso, teríamos um provável Centro Acadêmico da Licenciatura Univesp, um provável Centro Acadêmico das Engenharias Univesp e congregando as duas, um Diretório Central de Estudantes da Univesp.

É importante salientar que CA's e DCE são normalmente independentes entre si, bem como seus membros… ser do CA não implica ser do DCE e vice-versa.

Em relação ao apoio das faculdades aos CA's ele é relativo… afinal de contas, nem sempre um concorda com o outro. Os CA's existem para representar os alunos nas questões acadêmicas junto às instituições de ensino. Não existe CA vinculado à administração da faculdade… o CA é uma instituição discente. Isto é, dos alunos.

A questão chave de um Centro Acadêmico se resume em duas palavras…

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Um centro acadêmico precisa ser legítimo e representativo. A primeira palavra diz respeito a situação legal da entidade. Um CA é uma entidade, portanto é dotado de personalidade jurídica. E para fundá-lo, os alunos de um determinado curso deverão reunir-se inicialmente em uma comissão em prol da fundação do Centro Acadêmico. Esta comissão deverá elaborar uma proposta para o estatuto que regerá o futuro CA.

A seguir, a comissão convocará todos os alunos para uma assembleia de fundação do Centro Acadêmico onde o estatuto será apreciado. Aí, a assembleia deverá por maioria absoluta dos estudantes, aprovar a fundação do CA. O passo seguinte é registrar em ata o resultado desta votação, bem como a formação do conselho eleitoral que tratará da formação da gestão administrativa. Feito isso, após a eleição da gestão do CA, basta registrar em cartório as atas de fundação e eleição.

A partir daí, o Centro Acadêmico é legítimo e poderá articular-se para pleitear direitos e deveres dos alunos junto a instituição de ensino.

Em minha opinião, o maior problema a ser enfrentado na fundação de um CA é justamente fazer-se representativo. Digo isso porque representar não é o mesmo que impor uma opinião.

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O grande ponto de um membro do Centro Acadêmico é entender que ele não está ali para fazer valer sua opinião. Ele pode opinar, convencer, concordar, discordar… isso é inerente a função.

Mas antes de tudo ele deve representar. Entender o que os demais alunos desejam para seu curso e lutar por isso. Se após amplo debate acadêmico, ficou decidido que será escolhida a cor azul, ele pode até querer o vermelho… mas terá que lutar (e muito) pelo azul.

Quero explicar melhor esta questão do representar e vou usar como exemplo o que está acontecendo em nosso curso. Muitos estão insatisfeitos e não estão gostando da maneira como o curso está sendo desenvolvido. Pensando em abrir um canal para o debate, criei um grupo de discussão no Facebook para os alunos.

Sim… a ideia é que ali surgisse o embrião para o Centro Acadêmico.

Até onde sei (por não termos legitimidade nem representação, não temos acesso aos dados oficiais), temos 2000 alunos na Licenciatura. E enquanto digito este texto verifiquei que estão participando do grupo, apenas 108 membros. Acreditando que todos os 108 são alunos regularmente matriculados, temos aí 5,4% dos alunos da instituição.

O que significa que temos 94,6% alheios à esta discussão… que não estão participando por algumas prováveis razões:

  1. Desconhecem a existência do grupo
  2. Não têm interesse na discussão
  3. Estão satisfeitos com o atual modelo proposto pela faculdade
  4. Não acreditam que ali existe uma representação

Devo lembrá-los que uma assembleia de fundação deve ter no mínimo 2/3 dos alunos presentes para ser válida. Ou seja, teríamos que fomentar a discussão com pelos menos uns 1330 alunos.

E não temos nem 10% disso…

Eu sei muito bem que a quantidade de alunos deve ser menor que os dois mil que informei em virtude das desistências que aconteceram (e foram muitas). Mas que tenhamos apenas metade deste contingente… ainda assim, temos pouca representatividade.

Em bom português: não estamos gerando nenhum debate… o que estamos fazendo é reclamar uns para os outros sobre nossos problemas e frustrações.

Não estamos representando os alunos… mas apenas a nós mesmos.

Mas eu sou teimoso… tenho este defeito… entre tantos outros… E eu realmente gostaria de ver um Centro Acadêmico surgir. Mas que seja legítimo e representativo. Existem questões de ordem prática que necessitam ser debatidas. Mas primeiro as pessoas devem entender que um CA é um ato que deve partir dos alunos… e não da instituição.

Em meu próximo texto, falarei das questões de responsabilidade administrativa e fiscal de um centro acadêmico e também das obrigações de um membro do CA e também da briga entre política estudantil e partidarismo que inevitavelmente surgem nestes locais…

Ah sim… antes que alguém pense que sou algum tipo de palpiteiro, vou esclarecer algo… Participei de um Centro Acadêmico no meu tempo de faculdade… isso me custou algum tempo extra na faculdade. Fui coordenador de imprensa nas gestões de 1996, 1997 e 1998 do Centro Acadêmico Adolfo Lutz (o meu saudoso CAAL). Entre outras coisas, eu era o editor do jornal acadêmico (carinhosamente chamado de "O Patológico").

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