28 de outubro de 2018

Não importa quem terá a maior votação… o medo e a intolerância venceram

[NOTA IMPORTANTE] Este textos se trata de um editorial. Não reflete necessariamente a opinião particular dos colunistas do UBQ. Como sempre, o UBQ defende a liberdade de opinião e o diálogo. Sendo assim, fica aberto o espaço para o debate, desde que com respeito e urbanidade.

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Foi a eleição mais polarizada que vi desde que comecei a me preocupar com questões políticas. E isso já tem quase 30 anos. E resolvi escrever este texto, não pelo receio da derrota ou pelo júbilo da vitória, mas pela constatação de que pouco importa se você votou em Lul… ops… Haddad ou Bolsonaro. O medo, a desinformação e a intolerância são os grandes vencedores desta eleição.

Antes que partidários de um ou outro viés me ataquem ou me critiquem, vamos esclarecer o que eu acho importante. O meu voto… Votei em Jair Bolsonaro. E não… ele definitivamente não é o meu candidato ideológico. Mas o meu candidato foi derrotado em primeiro turno (aliás, votei em João Amoedo).

E quero deixar claro outras coisas importantes também:

  • Não sou racista
  • Não sou homofóbico
  • Não acredito que o poder deve ser tomado e mantido pela força
  • Não acredito que em governos populistas com propostas demagógicas
  • Não acredito em almoço grátis
  • Não acho que o Corinthians será rebaixado em 2018

Pode parecer um conceito complicado aos adeptos do lulopetismo, mas Jair Bolsonaro é apenas uma consequência das próprias posições tomadas pelo senhor Luiz Inácio e seu séquito de propagandistas.

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É fato inegável que viemos de uma onda de corrupção que assolou o país em todas as esferas e também em todos os poderes… pois é… nem o Judiciário escapa. Considerando um STF mais preocupado em legislar observando princípios partidários, ignorando muitas vezes em suas decisões, os princípios legalistas e constitucionais que deveriam nortear todas as suas decisões, fica difícil não pensar em problemas ali no poder judiciário.

São denúncias, esquemas, propinas, dinheiro em malas, apartamentos, indiciações partidárias para proteger correligionários (ou as pessoas se esqueceram que o Lula foi nomeado pela Dilma como ministro da Casa Civil em uma cerimônia comparável a posse de um presidente, apenas para que ele fugisse da jurisdição de Sérgio Moro?)

As pessoas se esqueceram das escutas telefônicas que mostraram conversas no mínimo suspeitas entre dona Dilma e o senhor Luiz Inácio. Se esqueceram que Michel Temer foi o vice de Dilma e o seu MDB um grande apoiador do governo petista? Se esqueceram da forma como Dirceu, Palocci, Gleisi e outros tripudiavam das graves denúncias que pesavam contra Lula, Dilma e o partido?

Se esqueceram da forma como o lulopetismo queria criar mecanismos de controle de imprensa para impedir que críticas e denúncias fossem adiante?

Não creio que o povo brasileiro seja tão burro a este ponto… muita gente não se esqueceu disso não.

E por conta disso, foi natural o surgimento do viés contrário… do viés crítico… da voz da insurgência. Do discurso contra tudo que está de errado por aí.

O PT disse que combateria o desemprego, melhoraria a educação, promoveria o crescimento da economia, traria grandes avanços nas políticas de saúde no Brasil, melhoraria o bem estar social, conduziria o Brasil ao pleno desenvolvimento político, econômico, social e educacional.

Seja honesto… o Brasil está um lugar melhor do que estava há 15 anos atrás? O lulopetismo não fez nada para que o Brasil crescesse. NADA!

Ah… mas agora o pobre pode andar de avião… o pobre pode ter casa própria… pode ter carro… pode ir para a faculdade.

É isso que faz do Brasil um lugar melhor? Promoveu-se o aquecimento da economia por meio do endividamento com o aumento das linhas de financiamento. Criou-se uma máquina pública inchada e ineficaz (mas que atende aos interesses partidários).

Pobre pode andar de avião… mas continua indo trabalhar em transporte público ineficiente, lotado e caro.

Pobre pode ter casa própria, mas ninguém divulga as estatísticas das famílias que simplesmente não conseguiram arcar com os custos do financiamentos. Vale o mesmo para os carros. Olhe o SPC e o SERASA… veja quantas pessoas estão lá por conta do endividamento para compra de bens de consumo.

Pobre pode ir para a faculdade… mas em geral, surgiram as grandes corporações educacionais que são em essência emissoras de diplomas. Houve uma queda no nível dos estudantes… pois com os novos alunos, chegaram também todas as deficiências da educação básica. Não é incomum termos na faculdade alunos que não sabem matemática elementar (regra de três simples, por exemplo) ou que são capazes de fazer a interpretação adequada de um texto acadêmico.

E no caso anterior, estou falando por que vi exatamente isso em minhas passagens pela USP e UNIVESP…  alunos chegavam a universidade  sem saber coisas básicas: regra de três, juros simples, interpretação de texto, leitura crítica… nada disso. Apenas estavam ali porque foi sendo empurrado para lá… por meio de cotas, por meio de ENEM’s mal elaborados, por meio de concessões inaceitáveis para uma prática universitária de qualidade.

E para piorar, estabeleceu-se a pseudo-verdade que só o lulopetismo estaria correto. Que não existia outro caminho ou outra alternativa. Que qualquer pensamento diferente era algo “das elites” ou então “puro golpismo” ou ainda apenas “a visão de alguém desinformado”. Na prática… se você não era lulopetista, então você era um burro incapaz de entender as maravilhas que estava sendo criadas no Brasil.

Aliás, acreditar que só o seu lado tem razão não é uma características de governos totalitários e antidemocráticos?

[ O outro lado ]

Por todo este cenário, Jair Bolsonaro foi esperto… Não vejo ele como alguém inteligente. Mas esperto… pois ele foi capaz de reunir toda a insatisfação com esse modelo assistencialista e demagógico em torno de sua candidatura. E isto aconteceu por uma razão muito simples… não tínhamos outra opção. Entre a “esquerda” e a “direita”. Não tinha ninguém pela direita.

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Ou melhor, até tínhamos, mas que não tinha a visibilidade necessária para se impor como opção.

Sim… Bolsonaro foi antes de tudo um oportunista. E uso a palavra no sentido de que ele enxergou uma oportunidade… a de reunir ao redor de seu nome toda a insatisfação do povo brasileiro com anos e anos de um governo demagogo que governou a base de subvenções e medidas demagógicas…

Bolsonaro e Lula são duas faces de uma mesma moeda. Ambos falam sem rodeios, falam sem palavras incompreensíveis  para o brasileiro comum. Falam coisas (certas ou erradas, isso agora não importa) de forma que o brasileiro comum consegue entender. E por isso o Bolsonaro conseguiu a projeção que está tendo nesta eleição.

Sejamos francos… quem foi Jair Bolsonaro nos últimos anos? Basicamente o deputado que falava mal de tudo e de todos e que aparecia no CQC vítima de piadinhas da trupe do programa.

Defende ideias polêmicas, não respeita minorias e causas específicas. Adota um viés perigosamente autoritário (o que é diferente de totalitário) e se mostra inapto para o debate político consistente. Ele até se cercou de bons técnicos para atuarem em áreas que não domina e é uma incógnita.

Nas condições normais, eu simplesmente veria o Bolsonaro como um tolo… como um pícaro. Alguém folclórico que surge por conta do imaginário popular que prefere votar em um personagem do que em alguém com ideias (basta ver que temos o Tiririca indo para seu terceiro mandato parlamentar).

Mas a questão é que a alegoria Bolsonaro falou exatamente o que muita gente gostaria de ouvir. E ele falou muito contra o lulopetismo. Esse foi o seu principal trunfo.

[ Qual a verdadeira representatividade de quem vence ? ]

É importante lembrar que quando venceu em 2002, Lula teve 39.443.765 votos de um total de 115.254.113 de eleitores. Isso dá 34% do total. Isto no primeiro turno. No segundo E aí vem com aquela história dos votos válidos… a conta correta a ser feita é… 66% dos brasileiros não escolheram Lula no primeiro turno. Nem no segundo… quando ele conseguiu 45% dos votos… 55% dos brasileiros preferiram outra opção. Lula não representou a maioria dos brasileiros. O mesmo aconteceu nas eleições seguintes (os dados são do TSE):

  • 2006: Lula teve 46% do eleitorado total
  • 2010: Dilma teve 41% do eleitorado total
  • 2014: Dilma teve 38% do eleitorado total
  • 2018: Bolsonaro teve 33% do eleitorado total (apenas 1º turno)

Nenhum candidato é a maioria nacional… e é isso que deve ser observado. E o candidato eleito deve observar isto. Que tem governar para todos… para sua minoria que (paradoxalmente) o elegeu e para a maioria que (paradoxalmente) não o elegeu também.

Agora, se você prestou um mínimo de atenção na campanha dos candidatos, o que se viu foi uma saraivada de ataques… DOS DOIS LADOS! Bolsonaro atacou Haddad na mesma medida em que Haddad atacou Bolsonaro.

Não há ali, nenhum inocente.

E o pior, é que foram ataques de manipulação, de descrédito, de ofensa. De imposição ao medo. Um lado dizendo que o fascismo dominaria o Brasil, o outro lado dizendo que nos tornaríamos uma ditadura bolivariana.

Os dois lados criando mentiras sobre o outro sempre com a intenção de confundir e não de informar.

Tanto Haddad como Bolsonaro criaram medo… criaram intolerância, criaram as facções do “estou certo e você está errado” sem se preocupar muito em explicar por que estava certo e o outro errado.

E o voto do brasileiro médio será assim, baseado em medo e desinformação. E eu não sei – no momento em que escrevo este texto – quem vencerá. As pesquisas até então indicavam Bolsonaro… mas tudo pode acontecer.

[ A minha humilde opinião ]

Neste cenário de mentiras e de amedrontamento eu fiz uma escolha. Escolhi um dos lados porque, além das mentiras e ameaças (que eu repito… foram feitas pelos dois lados), um deles já esteve no poder. E demonstrou que não governa para o Brasil, mas sim para seus apoiadores e tão somente eles.

Então, optei pelo possível… entre o sabidamente ruim e o possivelmente ruim, fiz a escolha daquele que ainda não se provou ruim na prática. Um voto no escuro… com medo sim…

Independentemente do que ocorrer na votação… amanhã teremos um presidente eleito. Ao vencedor, caberia o papel de governar e lembrar que o governo deve ser feito pensando em todo o Brasil. Ao vencido, o papel de observar, comentar, criticar, sugerir, fiscalizar.

Mas infelizmente, considerando a forma como foi conduzida a campanha… o que teremos provavelmente será uma troca de acusações e insultos. O que eu espero de tudo isso é que em 2022 possamos fazer escolhas melhores. Para 2018, o que tivemos foi uma escolha entre o “ruim” e o “provavelmente ruim”.

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