5 de dezembro de 2018

Baco Exu do Blues - "Bluesman" (Disco da Semana #48)

Buenas,

Semana de provas finais e fechamento de notas no colégio, correria total e irrestrita, é a hora daquele: "Prô, arredonda meu 4,2 pra 6,0?". Pois é… isso não é lenda, acontece, e muito... e nessa semana de encheção de saco "alunística", alguns deles nos trazem a luz alguns músicos e canções pra lá de bacanas. E é sobre um desses "presentes" que falo nessa semana.

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Ultimamente as maiores surpresas na música nacional não estão aparecendo via, rock ou pop, ou reggae (o que seria o comum há alguns anos atrás), algumas das coisas mais legais que aconteceram no cenário brasileiro vem do rap, mais precisamente da Bahia.

Pra vocês verem como essa cena é rica e tá botando um monte de coisa bacana na praça, será a segunda vez em menos de um mês que me cai às mãos (ou aos ouvidos, como queiram), mais uma pérola do rap baiano, o segundo trabalho de Diogo Ferreira Moncorvo, mais conhecido pela alcunha de "Baco Exu do Blues".

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“Mas Junior, o disco não é de rap? Por que o blues no nome?”
Pois é, também me fiz a mesma pergunta, e só consegui obter a resposta ao escutar o álbum. Faz parte total do conceito do disco, que fala rigorosamente do empoderamento do povo negro.

Pra descarregar a sua metralhadora verborrágica, usa bases e samples  de extremo bom gosto, ponto pro DJ Bebezão que seleciona beats de funk dos anos 70, de blues (olha a ironia aí), de latinidades, regionalismos e de rock, a faixa "Flamingos" acaba com um belíssimo solo de guitarra. Seu caldeirão de referências e suas letras, diretas como um soco no nariz, já começaram a chamar a atenção fora da bolha do rap nacional (seu disco de estreia já ganhou crítica de "disco do ano" em um prêmio bem conhecido em 2017), chegando até a ganhar curtida da própria Beyoncè (a quem homenageia na faixa "Me desculpe Jay-Z").

Mas não é só sobre empoderamento o álbum, ele também fala de sexo, poder, religião, sociedade e amor, mas de uma maneira não ortodoxa (mas fala do amor do jeito normal também, não se preocupem), usa o sentimento como metáfora para algumas situações de depressão.

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Escreve de uma maneira pra lá de esperta para mostrar o seu ponto de vista acerca do mundo e das relações humanas, além de meter o dedo na ferida do preconceito racial que abunda por nossas terras mesmo após 130 anos do "fim da escravidão", como na faixa que dá nome ao álbum:
"Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos
O primeiro ritmo que tornou pretos livres
Anel no dedo em cada um dos cinco
Vento na minha cara eu me sinto vivo
A partir de agora considero tudo blues
O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues
O funk é blues, o soul é blues
Eu sou Exu do Blues
Tudo que quando era preto era do demônio
E depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues
É isso, entenda
Jesus é blues
Falei mermo".
Quer entender como é possível fazer rap de maneira brasileira, com a nossa malemolência, sem perder a crueza, falando de amor, sem perder a virulência nas críticas, clica aqui e ouça já esse discaço. Obrigatório!!! Daqueles que mudam a sua visão sobre um ritmo, candidatíssimo a melhor disco do ano.

Que o orixá escolhido no seu nome artístico, o ajude a abrir os seus caminhos. Vida longa a mais um grande cronista da vida brasileira que surge por aqui.

Logo menos tem mais.

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