28 de junho de 2017

A UNIVESP e seus alunos cobaias (parte III)

ATUALIZADO EM 16/09/2017

Em razão da grande repercussão do vídeo que publiquei, me vi na obrigação de publicar um novo vídeo que pode ser acessado neste link.

ATUALIZADO EM 07/07/2017

Em razão da grande repercussão dos textos, resolvi publicar um vídeo sobre o tema na playlist “Um Papo Qualquer” lá no nosso canal do YouTube. Você pode conferir o vídeo aqui:

Apesar do vídeo, não deixe de conferir o texto! Se você gostou, compartilhe, clique em “gostei” e inscreva-se no canal

AQUI COMEÇA O TEXTO ORIGINAL

Nas últimas semanas tenho acompanhado um fenômeno interessante aqui no blog… Houve um aumento considerável de acessos a dois textos específicos. Ambos tratando da minha vida acadêmica na UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo.

logounivesp

Se você ainda não leu a parte I, nem a parte II, recomendo que você faça a leitura daqueles textos antes de continuarmos aqui.

Para quem não está com paciência, um resumo rápido…

Na parte I, eu comentei sobre a existência da UNIVESP e também sobre os problemas que surgiram. Por se tratar de iniciativa pioneira (não necessariamente inédita…), comentei que o curso apresentava algumas falhas e que além disso, não havia uma coesão entre os alunos sobre suas necessidades no curso.

Na parte II, eu tratei da questão de modo um pouco mais crítico. Falei especificamente das falhas quanto à organização e conteúdos das disciplinas da ocasião.

Posteriormente, houve uma movimentação para a criação de uma representação discente junto à UNIVESP. Juntamente com alguns alunos, tentamos fomentar o surgimento de um Centro Acadêmico, mas em razão da natureza fragmentada do curso (vários pólos) e também pelo desinteresse da maioria dos alunos (que eram muito bons em reclamar e cobrar por mudanças, mas pouco faziam para a mudança do status quo), a iniciativa acabou caindo no esquecimento.

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Mais recentemente, alguns alunos novamente buscaram se organizar para criar uma representação discente. E neste ponto devo fazer uma ressalva aos esforços do colega Romeu Miguel Rodrigues, que conseguiu inclusive uma audiência pública na Assembleia Legislativa. Pela sua persistência e motivação, ele realmente merece toda nossa consideração pela sua atuação.

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Bom… resumo dado, vamos aos fatos.

Eu imagino que a razão de tanto interesse pelos meus textos sobre a UNIVESP seja pelo fato de que – finalmente – a instituição está oferecendo vagas para ingressantes por meio de concurso vestibular. Acredito que as pessoas querem informações sobre o curso… se ele é bom… se vale a pena… enfim… se não é perda de tempo.

O que eu quero deixar bem claro aqui é que se trata da minha opinião pessoal e não necessariamente reflete uma opinião de consenso dos alunos ou de qualquer representação discente.

Além disso, não tenho nenhum conhecimento sobre o funcionamento dos cursos de Engenharia. Então, toda e qualquer opinião minha à respeito, deve ser entendida tão somente às licenciaturas.

Se você tem consciência disso… então vamos lá!

Por incrível que pareça, ainda sou aluno da UNIVESP. Bastante desapontado e bastante arrependido por ter escolhido Química como opção de licenciatura. Deveria ter permanecido com a Biologia.

O básico…

O curso de licenciatura que ingressei talvez seja um pouco diferente do que esteja sendo oferecido neste momento. Na ocasião, o curso foi criado com um ciclo básico e comum à todas licenciaturas e depois um ciclo formador específico para cada área: Matemática, Física, Química ou Biologia.

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Na mesma época, a universidade acenava com a possibilidade do aluno poder cursar mais de uma licenciatura após a conclusão da primeira, sem a necessidade de cursar novamente o ciclo básico.

As ferramentas para o aprendizado à distância…

O curso começou com alguns tropeços… apesar da proposta de formação à distância, as ferramentas de acesso não estavam bem estabelecidas. Nem mesmo os tutores demonstravam alguma intimidade com estas ferramentas. Criou-se um ambiente virtual para os encontros não presenciais com a utilização de ferramentas como o TERF e o GoToMeeting.

Após alguns encontros virtuais, perceberam o óbvio… foi um desperdício de dinheiro público investir nestas ferramentas pagas, já que o próprio Hangouts do Google e o Skype da Microsoft resolviam a questão dos encontros virtuais satisfatoriamente.

Com o abandono gradativo destas ferramentas, o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) ganhou funcionalidades e se tornou o principal instrumento de trabalho para a atividade individual dos alunos. Ali você tem acesso às aulas, tanto em seu conteúdo textual (slides, resumos, literatura), como conteúdo audiovisual (sonoras e vídeos). Dá pra fazer tudo por ali…

Outro ganho interessante é a existência de uma biblioteca virtual que permite acesso à livros que são sugeridos nas bibliografias das disciplinas ou até mesmo nas atividades propostas para avaliação. Esta biblioteca só surgiu com o início do ciclo de formação específica.

Outra coisa que é pouco divulgada aos alunos é o fato de que temos direito a uma assinatura gratuita da suite Office de aplicativos da Microsoft (Word, Excel, PowerPoint e outras ferramentas interessantes para todo e qualquer aluno universitário).

Ironicamente, para o envio de atividades de portfólio somos obrigados a utilizar o padrão PDF de arquivos ou então o compartilhamento de arquivos do Google Docs, ignorando todas as facilidades do Office 365…

As tutorias…

No ciclo básico, não sei se tive sorte ou se isso era algo comum, mas o tutor sabia perfeitamente que seu papel era o de um intermediador. Alguém que nos ajudaria a formar o conhecimento.

Com o ciclo de formação específica, isto mudou… acho que dei muito azar, mas o tutor deixa de ser um intermediador e passa a ser somente alguém responsável por cobrar a execução das tarefas, pouco se importando com a formação do saber

Em resumo, deixei de ter um tutor… e passei a ter um bedel…

As aulas virtuais…

Em minha opinião, elas oscilam entre “razoáveis” e “sofríveis”. Em alguns casos, é visível o desconforto e a inabilidade do professor com o vídeo. Para piorar, alguns professores enxergam as aulas como uma grande vitrine de sua produção acadêmica. E desta forma, suas aulas acabam funcionando mais como uma propaganda de quem ele é, do que como uma aula universitária.

Outra questão se refere as posições parciais de algumas disciplinas, principalmente àquelas de cunho pedagógico ou social. Em muitas ocasiões, os professores deixam de informar e passam a opinar, o que é complicado, considerando que o aluno deve ter acesso a todas as vertentes e a partir de sua análise pessoal, concluir o que funciona (ou não).

Os alunos…

Este talvez seja um ponto delicado… Diferentemente do que se vê em cursos tradicionais (isto é, presenciais), os alunos não tem em sua maioria o senso de coletividade.

Não é errado cuidar do próprio umbigo, mas a universidade estará lá após nossa passagem. Por que não lutar por um curso de qualidade para que os futuros alunos possam ter melhores oportunidades?

Este senso de preocupação coletiva simplesmente não existe.

Outra questão se refere ao caráter heterogêneo da formação das turmas. Isto não é um demérito, nem necessariamente algo ruim. Mas é comum vermos alunos que estão em busca de uma segunda graduação, ou então pessoas que não tiveram a oportunidade de cursar a faculdade em época oportuna e agora, com maior estabilidade, procuram recuperar o tempo perdido.

Ainda temos aqueles que estão ali tão somente pelo diploma. Temos muitos professores da rede pública que estão matriculados ali somente para ter um curso adicional para sua evolução funcional, ou então melhorar suas chances nos processos de atribuição de aulas.

Muita gente não está ali necessariamente para o exercício da carreira docente.

Críticas, críticas, críticas! Algum elogio?

Sim! A UNIVESP tem coisas muito boas também. Acho que a mais interessante é o canal do YouTube mantido pela instituição. Tem muita coisa lá! Tem inclusive uma programação diária e vídeos com vários temas diferentes (além das aulas que estão disponíveis… algumas de qualidade questionável, mas outras muito boas… principalmente àquelas destinadas ao pessoal da USP, UNESP e UNICAMP). Um mundo de informação.

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Além disso, a UNIVESP conta com uma revista acadêmica BASTANTE interessante. A revista pré-UNIVESP é uma publicação que a cada edição aborda um tema diferente. Com abordagem multidisciplinar, a revista funciona até mesmo como um repositório importante para professores na preparação de suas aulas. Acho que é um dos grande diferenciais que vale a pena conhecer.

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A pergunta que não quer calar…

Acho que as pessoas que estão procurando referências sobre a UNIVESP querem saber o óbvio: o curso é bom ou não? Vale a pena?

É um questionamento simples… Infelizmente, a resposta não é tão simples assim.

Considerando tudo que passamos até o presente momento, fico com minha opinião de que esta primeira turma funcionou como um laboratório para que as ideias fossem testadas à exaustão. Tivemos sucessos e fracassos, bem é verdade.

Se durante o planejamento do PPP (plano político pedagógico) dos cursos que estão sendo oferecidos neste vestibular, a universidade levou em conta uma análise profunda destes erros e acertos, certamente eles não repetirão os mesmos erros, e os novos alunos terão a oportunidade de uma formação mais sólida e crível.

Agora… se a UNIVESP não fez este exercício de auto-crítica, tão necessário para o aprimoramento de seus cursos, então não temos um cenário promissor.

Eu tenho um perfil acadêmico um pouco diferente do aluno – digamos – padrão da UNIVESP. Eu já tenho graduação anterior em faculdade pública, cursei outras graduações (cursei medicina pela UNICAMP sem ter concluído o curso e posteriormente cursei licenciatura em Biologia pela USP, que eu troquei pela licenciatura da UNIVESP). Confesso que tenho um olhar um pouco mais crítico (e isto me foi dito pelo meu próprio tutor) e talvez eu tenha um nível de exigência um pouco maior.

Para este vestibular, a UNIVESP suprimiu as licenciaturas de física, química e biologia, mantendo a licenciatura em matemática e trazendo a licenciatura em pedagogia. Só por este movimento, percebe-se que alguma coisa mudou na estrutura.

Neste momento, acho que a UNIVESP talvez esteja em busca de aplicar as lições aprendidas com os alunos cobaias que nós fomos nesta primeira turma. E talvez por isso, a experiência dos novos alunos seja um pouco diferente da minha. Talvez seja uma experiência melhor.

Sou defensor da ideia que quem faz a universidade é o aluno. E depende principalmente dele a qualidade de seus estudos. Claro que ninguém fará milagre se a infra-estrutura não for adequada.

Então, se você está decidido a fazer UNIVESP, procura por um curso de graduação na modalidade EAD semi-presencial e está preocupado principalmente em obter seu título de graduação, sem grandes preocupações com o meio acadêmico, você pode encontrar aqui um curso bem bacana, que ainda tem muitas fraquezas, mas que com o tempo deverão ser sanadas, ou pelo menos mitigadas.

Se você pretende fazer um curso de graduação, tem disponibilidade de tempo e gostaria de vivenciar de verdade o mundo acadêmico, então sugiro que procure uma boa faculdade pública que ofereça o curso tradicional, pois a UNIVESP ainda não oferece aos seus alunos justamente aquilo que um curso universitário deveria oferecer em sua essência: vivência acadêmica.

Sei que o texto ficou grande… mas não seria possível responder a algo tão complexo somente com um “SIM” ou “NÃO”. Fico à disposição para eventuais dúvidas e comentários. Sugestões e críticas que venham enriquecer a discussão serão bem vindas.



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