29 de agosto de 2015

O péssimo hábito da pirataria

A história é real… quero contar a você…

Um chefe de repartição pública fez uso da verba da repartição para comprar um equipamento de informática (um computador desktop). Aceitou o serviço de um prestador de serviços que tratou de providenciar as cotações (para uso de verba pública sempre são necessários três orçamentos, sem contar que os fornecedores devem estar regularizadas e em dias com suas obrigações fiscais), comprar o equipamento e entregar o equipamento solicitado.

Até aí… nada demais.

Aí o tal computador foi instalado e ligado. Lembrem-se: trata-se de um computador novo. Eis que surge a tela:

E neste momento, começam alguns questionamentos… Por que um computador novo está carregando o Windows 7? Por que um computador equipado com processador Intel i5 que foi montado em 2015 após o lançamento do Windows 10 veio com um sistema operacional de 2011?

Enfim, o Windows é carregado e surge a área de trabalho. E surge um novo questionamento… Por que a resolução da tela está desconfigurada (o monitor é um Full HD 1920x1080, mas a resolução está em apenas 1024x768)?

Uma rápida verificação e mais duas descobertas: 1) o computador veio com o pacote Office 2010 completo instalado (nesta época, a Microsoft já oferecia a versão Starter pré instalada nos computadores), 2) o Windows não apresentava a mensagem para ativação, tampouco de que o SO já estava ativado.

Uma última observação… na lateral do gabinete uma bela etiqueta branca e preta informando que aquele computador tinha uma configuração XYZ e vinha com o Linux instalado.

E aí, a óbvia constatação… o tal prestador de serviços vendeu um computador sem Windows. E aí tratou de instalar um Windows “alternativo” e de quebra um Office “alternativo”.

No popular: Programas piratas… o tal prestador vendeu um computador com programas piratas instalados no mesmo. E eu não sou nenhum legislador, advogado e sequer me aproximo de um rábula. Mas desconfio que tal prática não é lícita.

O chefe da seção foi alertado para o fato. E ficou indignado ao saber que comprara o gato… e não a lebre. Tratou de chamar o prestador de serviços que alegou inicialmente que a questão não era com ele, mas sim com um fulano da mesma prestadora de serviços. Falou-se com o fulano que disse que quem resolvia isso era o primeiro prestador. Um empurrava a responsabilidade para o outro.

Aliás, em determinado momento, jogaram a culpa no coitado do rapaz que apenas foi lá na sala do chefe configurar a rede no computador. Segundo os prestadores: “Que raio de técnico o chefe da seção arrumou que sequer sabia instalar Windows?”

Uma ressalva importante: o tal técnico estava ali em caráter informal, prestando consultoria solidária pro-bono. Em português claro, fazendo um favor para o chefe de seção. O tal técnico – a propósito – tinha alguma experiência de campo… trabalhou na área e lecionou em cursos de montagem e manutenção de computadores por 8 anos… E ele sabia sim instalar o Windows.

E também sabia reconhecer um Windows pirata…

Calma… a história ainda não terminou…

Depois, o prestador informou que a prática era comum e que outros chefes de seção fizeram isso e nunca tiveram problemas. Que aquilo era algo normal e que era feito para oferecer um produto por um preço melhor.

E aí, a história seguiu como quase sempre acontece no Brasil… o prestador de serviço que teoricamente deveria propor a melhor solução para o seu cliente tanto financeiramente como tecnicamente propôs o famoso “jeitinho brasileiro”.

O que mais me incomoda nesta história é o fato de que se o tal técnico não estivesse por ali, provavelmente o cambalacho passaria sem maiores problemas.

Não vou tapar o sol com a peneira… atire a primeira pedra quem nunca instalou um programa pirata no computador. Seja por desinformação, falta de recursos ou até mesmo simpatia com o Partido Pirata do Brasil (sim… eles existem!) muita gente já usou ou ainda utiliza software pirata.

Houve uma época em que eu até tinha de cor um número de série do Windows 98 SE (o famoso XJ3XX-YR4CJ-etc…etc…etc…). E tinha não só o Windows e o Office, mas também o pacote Adobe, Corel e Macromedia. O uso era indiscriminado.

Eu me regularizei quando no lançamento do Windows 7. Comprei duas licenças (uma para o desktop e outra para o notebook) e também comprei uma licença do Office 2010 (que permitia a instalação em até 3 computadores). Quando chegou o Windows 8, aproveitei a migração do sistema por R$ 69,00 nos dois computadores. E também atualizei meu Office para a versão 2013 University. Há muitos anos atrás eu comprei uma licença do Photoshop CS4 e do Acrobat 9 (longa história… deixa pra lá). O Anti-Vírus utilizado antigamente era o Norton e depois migrei para o Kaspersky (também com direito a 3 licenças).

Então acho posso me gabar… só utilizo software original nos meus computadores.

Curiosamente, isto não deveria ser motivo de orgulho. Apenas um rompante de honestidade e ética. Mas muitos não enxergam assim.

“Puxa vida, Ricardo… que bom que você tem dinheiro para gastar em licenças de software… problema seu” pode ser o seu pensamento neste momento. Não o critico… como disse, eu já fiz uso dos alternativos também.

Mas eu mudei meu pensamento sobre a utilização dos software pirata, quando atuei como consultor de informática. Pelo meu conhecimento, as pessoas me remuneravam para que eu as atendesse. De forma análoga, os programadores também são remunerados pelo seu trabalho de criação, a empresa tem toda uma cadeia produtiva por trás do software e precisam auferir lucro com isso. Criar o Windows, Office, Photoshop e outros tem um custo elevado.

Então nada mais natural e justo de que a empresa seja remunerada pelo seu trabalho também. Pare e pense por um momento… você trabalha de graça? Você doaria o seu tempo e talento para criação de algo?

Se sua resposta é sim… então você pode pensar em alternativas legítimas como o Linux e seu Open Office. Ou então, o Android e o pacote Google Docs. Eles são gratuitos.

Mas se você optou por utilizar o Windows, Office, Corel, Photoshop e tantos outros bons programas, lembre-se que eles são produtos. E como tal, possuem valor agregado. Então o desejável é que você seja honesto e ético consigo mesmo.

Se pensarmos na vida útil de um computador, temos uma média de 4 anos. Vamos considerar que você é um usuário comum que usa o computador para trabalho, estudo e entretenimento. Uma licença do Windows no varejo custa R$ 469,00 (preço da Microsoft Store para a versão Windows 10 Home). Uma licença simples do Office sai por R$ 320,00 (R$ 80 anual por quatro anos). E se você quiser um pacote de aplicativos gráficos, a Adobe Creative Cloud sai por R$ 1056 (valor da assinatura por 4 anos). Isso dá um total de R$ 1845,00 para utilização do computador por 4 anos.

Faça as contas… Se pensarmos em termos de mensalidade, teríamos um custo aproximado de R$ 40,00 mensais. E se o utilizador for estudante, este valor pode ser ainda menor graças aos pacotes acadêmicos (falarei sobre isso em outra ocasião).

Sinceramente, não creio que seja um custo tão pesado como muitos alegam por aí. E se você for trabalhar e ganhar o seu dinheiro com o computador, esse gasto faz parte dos seus custos fixos. Ou seja, com o seu faturamento você deve ter provisão de recursos para pagar isso.

Mas do mesmo jeito que as pessoas pagam pela luz, água, comida, telefone, tv a cabo, roupas e outros cacarecos que consomem, defendo que deveriam pagar pelo software que utilizam também.

Engraçado… isso deveria ser uma coisa tão natural, não deveria?

Por fim, algumas observações importantes que podem fazer com que alguns repensem sua posição:

  • As versões acadêmicas dos diversos programas costumam ser mais baratas. O Office em sua versão University custa R$ 210 numa licença de 4 anos. Microsoft, Adobe e Corel são algumas empresas que possuem pacotes acadêmicos
  • Com a enxurrada de apps existentes você dificilmente não encontrará um programa gratuito para algumas aplicações. O BitDefender e Comodo são ótimos anti-vírus gratuitos. A suite de aplicativos Open Office também é bastante completa e pode funcionar como uma excelente alternativa ao Office.
  • Caso você não tenha grande necessidades, pode fazer uso da versão online do Office. Ela tem menos recursos, mas é totalmente gratuita.
  • Você ficaria feliz em ser um desenvolvedor de software, ter que pagar suas contas com o seu trabalho e não receber um centavo por isso?

Pura reflexão e insônia…

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