Resenha do show realizado no Allianz Parque, São Paulo em 27/02/2018.
Desde a surpresa do anúncio da turnê conjunta em meados de 2017, ansiedade era a minha palavra de ordem. Duas das minhas bandas favoritas tocando no mesmo dia, era bom demais pra ser verdade.
Vira o ano e 2018 começa a dar sinais de que o show poderia ser ainda mais épico. Rumores apontavam que tanto Dave Grohl poderia assumir as baquetas do QOTSA (já o fizera em dois álbuns) em uma parte do show, como Josh Homme poderia devolver o regalo cantando em algumas músicas no show do Foo Fighters. Essa possibilidade era tão surreal quanto fantástica. Durante o começo do ano, ia acompanhando as notícias da turnê (setlists, recepção do público, comentários, fotos) e a curiosidade/ansiedade aumentava. Até então, nada de participações especiais, mas a recepção do público aos shows era pra lá de positiva.
Chega enfim o dia do show, fila pra entrar, fila para a revista e demora para se achar um bom lugar na arquibancada. Com essa celeuma do lugar, perdemos a entrada e metade da primeira musica do QOTSA. Mesmo assim, que banda! Nada falta: da voz irretocável de Josh Homme à bateria de John Theodore, tudo é bruto, executado com maestria, guitarras (todas as 3!) moldam o som da banda e junto ao baixo dá o peso e as nuances que as canções pedem.
O setlist do QOTSA foi uma mistura de todos os discos, mais o enfoque maior foi no álbum mais recente, "Villains", e como esse funciona bem ao vivo! De por pra bater cabeça (quem é de bate-cabeça) e dançar (quem é de chacoalhar o esqueleto), impossível passar imune.
Não gostei do papel secundário que o QOTSA teve na turnê, que limitou seu tempo de palco e talvez tenha ocasionado a sisudez/falta de interação com o público. Entraram, fizeram um baita show e foram embora. Simples assim. Por mais competentes que sejam, faltou um pouco de empatia. Quanto ao show? Irretocável.
Após o término do QOTSA, começa a segunda parte do martírio, conseguir cerveja/água (a preços absurdos) nos copos tematicos da turnê. Filas intermináveis, falta de educação do povo e muita má vontade do pessoal do atendimento (prestem mais atenção aos detalhes administradora do Allianz Parque, por favor). Depois de 40 minutos na fila (entre pagamento e retirada), recebo uma cerveja quente e nada do copo da turnê que havia acabado. Enquanto isso, o Foo Fighters já tinha entrado no palco e começado seu espetáculo, isso mesmo, Grohl e companhia não fazem só um show, fazem espetáculo (retomam a tradição dos grandes shows dos anos 70), e nisso são irrepreensíveis.
Músicas de toda a sua carreira gritadas a plenos pulmões por aproximadamente 40 mil pessoas dão um panorama da relevância dos Foo Fighters para o rock. Claro que era garantido jogar para a plateia, então recheiam o setlist com os maiores sucessos (coisas mais obscuras e melhores ficaram de fora por isso) e as novidades do último disco, "Concrete and Gold" (essas ainda não tão conhecidas do grande público, passavam com menor euforia).
Sonoridade ótima, banda sensacional e público ganho, taí, receita de sucesso, vamos manter. Nada disso. Grohl fala demais, interage demais com a plateia (o que é bom e ruim ao mesmo tempo). Em uma dessas falas, quando introduz a banda, a cada nome de um músico, um grande trecho de alguma música escolhida por cada um. Aí começa o único senão, os "covers". Uma banda com um repertório tão bacana, com mais de 20 anos de estrada, não precisa fazer uso de recurso tão datado. Nem dos "solinhos" de cada um dos músicos ao apresentá-los, acho isso dispensável. O ponto positivo dessa parte é a troca de instrumento entre Grohl e o baterista, Taylor Hawkins. Este assume os vocais e Grohl vai para a bateria rememorar seu instrumento de origem. Nessa passagem mais um cover, tocam "Under Pressure" do Queen numa versão anabolizada (Taylor Hawkins seria vocalista em qualquer banda do mundo, canta demais).
Ah! Durante essa parada, como de costume, Dave Grohl chama alguém do público para subir ao palco. Quem o faz dessa vez é um casal, e dessa vez, nenhum dos dois faz um som com a banda, o rapaz aproveita a oportunidade e pede a moça em casamento. Com todas as bençãos dos deuses do rocknroll e apadrinhados pela banda, ela aceita o pedido.
De volta a seus postos originais, seguem com uma enxurrada de clássicos tocados por uma banda pra lá de afiada. Toda essa competência e simpatia os colocam no mais alto patamar entre as bandas atuais.
Terminam o show com "The Best of You" que é entoada por todos e mesmo após o fim e sem a banda no palco, o coro continua. Depois de uns cinco minutos voltam ao palco para o bis, todos estavam sedentos por mais. Tocam "Dirty Water" do álbum mais recente, rememoram o primeiro álbum em "This is a Call" e fecham o show com chave de ouro em "Everlong", onde a banda poderia ter ficado em silêncio que o povo cantaria alucinadamente.
Fim de show, o Foo Fighters mostra porque é a maior banda em atividade hoje, setlist abrangente e classudo, músicos sensacionais, carisma pra dar e vender e Dave Grohl, o cara mais bacana do rock.
Show pra lavar a alma e exorcizar demônios. Longa vida aos Foo Fighters.
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