Desde a faculdade eu como coxinha com Fanta no café-da-manhã. Pois é… Sem querer parecer indelicado, estamos em pleno estado de direito. E – no gozo de minhas prerrogativas de cidadão livre – entupo minhas coronárias com o que eu quiser. Grato.
Descobri uma padaria perto de casa que tem coxinha feita na hora. Juro. Aquelas coxinhas que ficam dentro daquele trapézio de vidro, quente por dentro são, digamos, fresquinhas. Na maioria das padarias só o pão-de-queijo não é dormido. Nestas… quando se pede coxinha, eles a levam para o micro-ondas antes de servir, transformando uma ‘coxinha-de-ontem’ numa ‘comida-do-satanás’.
E nestas horas… só mandando bala na maionese e na pimenta para aquilo poder descer - além da Fanta - arrematando-se o repasto com água com gás num copo com bem muito gelo e um sonho-de-valsa.
Viver é bom... Mas voltemos à padaria perto de casa.
É que lá, além da coxinha de frango com catupiry (deve haver um estudo para entender a mente de quem come coxinha de frango sem catupiry) tem também bolovo fresquinho. Um bolovo tem o aspecto parecido com o da coxinha, sendo porém arredondado e não em forma de gota como sua colega.
Dentro da casca de fritura há, como se supõe, um ovo cozido no qual é salpicada uma pequena porção de carne moída. De comer rezando. Já eu como pedindo perdão, porque qualquer dia desses Deus perde a paciência comigo.
De tal sorte que esta padoca só não é perfeita por duas coisas: primeiro porque ainda não tem pizza fresquinha de manhã. Segundo, porque tem uma clientela muito estranha, que não respeita o cardápio do estabelecimento.
E isto causa certos constrangimentos…
Dia desses eu cheguei para tomar café. Só tinha esfirra e os infalíveis pães-de-queijo. Paciência. Pedi esfirra.
"E para beber, Parmêra?" (os simpáticos balconistas dispõem de um talento inato de sempre acertarem o time dos clientes. É impressionante.) "Fanta Uva". Ele fez uma cara estranha e me deu a esfirra.
Nisso, chegou um do meu lado. Pediu um chocolate quente - tava um calor da bexiga. A partir daí a humanidade baixou por lá. E tome pedidos off-label, sempre berrados pelo balconista ao chapeiro ou ao tirador de café:
“Pão na chapa sem apertar!”
“Canoa com requeijão!”
O que diabos é um pão-canoa?
“Americano sem alface!”
Americano tem alface?
“Café com espuma de leite, mas só um pouquinho de espuma!”
Se vier com muita não é só tirar com a colherinha?
“Minas quente com orégano!”
Borracha com orégano…
“Vitamina mista com paçoca-rolha!”
Essa me apeteceu…
“Churrasco com vinagrete no francês!”
Opa! Um dos meus… Fui olhar e era um sujeito magrelo, vestido de ciclista, até de capacete. Odiar um estranho a esta hora do dia é ruim. Mas pode acontecer.
É claro que isso acontece não só nesta, mas em qualquer padaria, em qualquer lugar e época. Tem até um samba do Noel Rosa onde um sujeito se dirige ao garçom despejando pedidos, "faça o favor de me trazer depressa uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga à beça, um guardanapo e um copo d´água bem gelada, feche a porta da direita com muito cuidado, que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol, vá perguntar ao seu freguês do lado qual foi o resultado do futebol". Eu ainda tenho pena do garçom quando ouço.
O fato é que minha esfirra já passava da metade e a pimenta, por conta da falta da bebida, já ia tomando proporções mexicanas. Tive que admoestar o gente-fina do balcão:
- Meu rei, ...
Ele nem deixou que eu terminasse.
- Vixe, sua bebida! Desculpa, fera, mas é o quê mesmo?
Achei que se eu complicasse, iria sair mais rápido…
- Abacaxi com hortelã, batido com pouco gelo e quatro gotas de adoçante.
Ok… não é bem meu estilo de suco mas só queria que saísse depressa. O balconista berrou o pedido fazendo questão de repetir "com quatro gotas de adoçante para ele aqui", e me apontava como se convocasse um julgamento público para o gorducho que pedia suco com adoçante.
O suco estava bom. E, confirmando meu palpite, veio bem rapidinho.
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