NOTA DO EDITOR: em razão da interrupção extraordinária das atividades do UBQ na semana em que ocorreu o falecimento do jornalista Ricardo Boechat, alguns textos tiveram sua publicação postergada. O editor agradece a compreensão da ‘Redação UBQ’ e também dos nossos leitores.
Buenas,
Nesses meus dias de férias, talvez pela localização, ou por quantidade de gente, o sinal da internet era escasso e por isso fiquei meio afastado do mundo, mas foi colocar os pés em São Paulo novamente para ter uma notícia que me pegou de surpresa e entristeceu-me um bocado: A morte do grande Marcelo Yuka. Baterista mediano, mas letrista e cronista pra lá de feroz do cotidiano do Rio de Janeiro, além de ser um dos caras mais lúcidos e cientes das causas sociais brasileiras, o que já fazia dele um dos prediletos da casa.
Eram dele as letras mais contundentes d'O Rappa até seu infortúnio ao tentar escapar de uma tentativa de assalto em 2001, o que além de sua lesão, custou a sua saída da banda.
Após a sua saída, a banda continua relevante no cenário nacional, mas suas letras nunca mais tiveram o mesmo impacto. A banda virou uma versão de si mesma, não que isso fosse ruim, pelo contrário, mas faltava a eles um "que" a mais, mostrando que o ex-baterista era o elo mais forte dessa corrente.
Esse disco produzido por Chico Neves e Bill Laswell mostra uma banda mais madura e consolida o discurso social dos cariocas, mostrando o descaso com as periferias, além da melhor e mais profícua fase instrumental dos caras.
Pesado, experimental, panfletário, mas sem deixar de ser popular. Temos aqui a banda em seu auge criativo, onde praticamente mais da metade do álbum se transformou em singles (na verdade em hinos) e passou a ser parte preponderante em seus shows. O apoio e a transmissão maciça de seus clipes na MTV e o uso das faixas "Tribunal de Rua" e "Lado B, Lado A" na trilha sonora dos filmes "Tropa de Elite" também ajudou a alavancar o álbum a um status de clássico, figurando em quase todas as listas de maiores álbuns brasileiros de todos os tempos.
As letras mostram o cotidiano da periferia carioca em um momento político complicado para a cidade (e por que não… do país todo?). Todas as críticas viram verborragia na poderosa voz de Marcelo Falcão que é acompanhada por uma banda pra lá de afiada.
Da cozinha pesada de Yuka e Lauro Farias, às guitarras de Xandão e os efeitos e beats do tecladista Lobato e do convidado essencial (quase um 6º membro da banda) DJ Negralha, mostram a disposição dos caras em criar um clássico.
Os produtores conseguiram tirar da sonoridade da banda algo que os transformara em plural, mesmo tendo um caldeirão de referências, a identidade da banda se solidifica, se transforma em algo único. Um dos discos mais indispensáveis da nossa discoteca básica nacional.
Após sua saída, Yuka ainda teve tempo de formar uma outra banda, a F.Ur.T.O., mas sem a mesma repercussão de seu trabalho anterior.
Que a obra de Marcelo Yuka e o Rappa seja exaltada, não só como música, mas como um retrato crítico do Rio de Janeiro, feito por alguém que soube como ninguém escancarar o que a mídia sempre fez questão de esconder.
Vá em paz Yuka… sua música e seu legado serão eternos.
Para ouvir esse clássico, clique aqui.
Logo menos tem mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário