Buenas,
Quem disse que o novo precisa ser exatamente novo?
Na minha ânsia de descobertas, acabei descobrindo o novo nos
lugares mais obscuros dos já longínquos anos 60. E quer saber? Soa mais
contemporâneo e muito mais criativo do que muita coisa que se faz hoje.
Esse é um compacto, sim, isso mesmo, um compacto
duplo de vinil (o famoso 7") com duas músicas de cada lado, mas de uma
genialidade absurda, e anos-luz a frente do que se fazia em terras brasileiras
em 1968 (exceto Mutantes).
O disco da semana é o seminal, sensacional,
psicodélico e absurdamente incrível "Compacto" do Quarteto Nova Era.
Formado em Niterói/RJ em 1968, contava em sua formação com Francisco
Aguiar, na guitarra/vocais, Maurinho Simões, no baixo/vocais, Rogério (que não fazia parte do
núcleo criativo) na bateria, Bia Franco e Renata Giglio, nos vocais.
Com apenas quatro músicas e um impacto sonoro de me tirar do
sério, reúne a acidez, a crueza de guitarras cheias da mais pura distorção
"fuzz", com a melodia e doçura vocal de um "the Mamas and the
Papas", conseguindo um equilíbrio que poucas bandas ao longo dos tempos
conseguiram (várias bandas que retomam essa sonoridade sessentista, dariam um braço
pra ter feito um disco como esse). A esse equilíbrio incrível, somamos um outro
quarteto, esse de cordas, que preenche e dá uma aura de ficção científica em
"Apolo" a canção que abre o lado A da bolachinha.
As outras canções do disco são pra lá de rebuscadas e bem produzidas,
e todas contam com alguns recursos que engrandecem o som da banda: orquestrações, instrumentos de sopro, órgãos
e alguns efeitos de eco, novidade à época. A qualidade vocal é incrível. A
soma/sobreposição das vozes mostra a qualidade técnica e do que são capazes
quatro grandes cantores quando resolvem fazer música boa.
Suas letras vão da auto-ajuda em "O Tempo Não
Espera" à ficção científica e conquista do espaço (tema recorrente pra época).
Tudo ligado a temática hippie e ao psicodelismo das bandas americanas e inglesas
que faziam a cabeça dos adolescentes menos alienados dos anos 60.
Guitarrreiro que sou, não podia deixar de citar o trabalho guitarrístico
de Francisco Aguiar. Com levadas e riffs pra lá de criativos, abusa do uso da
distorção pra trazer textura e peso ao som do quarteto, os colocando em pé de igualdade
às grandes bandas da época (daqui e de fora).
O mais insano de tudo, é tentar entender como o
"Quarteto Nova Era" não fez o merecido sucesso em terras tupiniquins
(algo me diz que a juventude alienada e bitolada em Jovem Guarda não entendeu a
proposta de alguns artistas da época e relegaram grandes obras ao ostracismo),
visto que faziam um som antenado com o que de melhor acontecia no rock mundial.
Mas o Brasil é um caso a parte, também deixou o melhor disco
de Ronnie Von (do mesmo ano, com uma sonoridade parecida) jogado às traças, por
pura preguiça e por ter uma mentalidade mais fechada em relação aos temas das
letras e a sonoridade nada óbvia, mas graças as pesquisas e coletâneas
como "Obsession: Obscure psych from Turkey, Brazil, Uruguay, India, Argentina, and Peru 1968-1972" de selos estrangeiros, como a "Groovie
Records", essas pérolas do cancioneiro nacional não se perderam. Esses
selos fazem o favor de relançar discos como esse do “Quarteto Nova Era” em seu
formato original, em compacto de vinil a preços que passam longe do exorbitante
que um original de época teria.
Foi através de uma coletânea dessas, mesmo que em formato digital,
que cheguei até a banda, mas me chateia o fato de tanta coisa boa produzida por
aqui desde os anos 60, serem mais conhecidos e valorizados lá fora do que em
nosso próprio território.
Se a maioria das pessoas não conhece, esse compacto do "Quarteto
Nova Era", aqui em casa ele é discoteca obrigatória
e predileto da casa.
Se eu fosse você, ouviria ontem, ouviria hoje, ouviria
sempre. Disco mais que obrigatório, essencial.
Pra ouvir online, clique aqui
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Logo menos tem mais.
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