Atendendo a um honroso pedido do editor deste Blog, passaremos a
falar da Copa, sempre sob uma perspectiva mais ampla, para além da análise do
jogo - não se trata de imodéstia, mas é que este escriba entende pouco do
riscado e "perspectiva mais ampla" significa que falaremos umas
bobagens, uma vez que nunca conseguimos enxergar em campo as tais "duas
linhas de quatro".
Escolhemos por hora focar na
chave do Brasil e principalmente nas cidades sede, desta que será mais uma Copa
onde muito dinheiro será lavado. Bom lembrar que o chamado “Padrão Fifa” ,
adotado após a Copa dos Estados Unidos, serviu para reinventar o futebol como
espetáculo. Até então esse negócio de cadeirinha numerada para todo mundo,
lanchonetes decentes, banheiros higiênicos, iluminação sem sombra era coisa
distante do futebol, salvo exceções.
Um bom exemplo é a partida primordial de
minha geração, o Brasil x Itália na Copa de 82. Cinco títulos mundiais até
então em campo, para a partida que redefiniu o modo de jogar brasileiro e nos impingiu
um trauma equivalente ao Maracanazzo de 50 mas que foi disputada no Sarriá, em Barcelona,
um estádio que se assemelha (com todo respeito) à Vila Belmiro.
Se o “Padrão
Fifa” corrigiu por um lado este tipo de aberração, por outro possibilitou o incremento
da corrupção ao obrigar a reforma para adequação das Arenas. Esse escoamento de
dinheiro público foi um problema quando a Copa se realizou aqui, gerando
manifestações de rua, com quebra-quebra até o começo do torneio. Não parece que
este será um problema na Rússia. A ultima manifestação pública que lá houve foi
há exatos 100 anos, liderada por um tal Lênin. Parece que o pau quebrou de tal
forma, que desde então qualquer tentativa de se fazer algo parecido é reprimida
à bala.
O Brasil vai ficar hospedado em Sochi, uma cidade-balneário, às
margens do mar Negro. Na época da Copa vai fazer média de 30 graus, portanto a
turma vai se sentir em casa. Sochi tem cacife para hospedar o Brasil. Esta
simpática e quente (para os padrões Russos) cidade já sediou uma edição dos Jogos
Olímpicos ... de inverno.
Pois é, lá não tem neve, mas isso não foi problema para
Putin, que fez neve artificial em quantidade suficiente. A bagaça custou 160
bilhões de Reais – e cêis aí reclamando dos trintinha bi que nossa Copa custou.
Um deputado de lá chamou a imprensa e esculhambou o gasto, levantando sobre ele
várias suspeitas. Apareceu morto dias depois. Simples assim.
Nossa primeira partida será em Rostov, a 400 km. Trata-se de uma
rica cidade, que recebe oleodutos do Cáucaso e se liga por canais ao Mar
Cáspio, Mar Báltico e ao Rio Volga. Tem pouco mais de um milhão de habitantes.
Porém essa posição estratégica não confere à cidade a mesma importância no
futebol.
O Rostov FC é um Atlético Goianiense russo. Por conta disso, tiveram
que construir um estádio para a Copa, que obviamente vai ficar às moscas
depois. Disseram que ficou lindo, uma beleza. Até porque quem disser o
contrário leva bala. Em Rostov empataremos com a Suíça em 0X0.
O segundo compromisso será em São Petersburgo, longe pra cacete de
Sochi. Eu gosto do nome desta importante e histórica cidade. Não existe, por
óbvio, um santo chamado Petersburgo. É um nome que faz sentido em russo, mas
para o português a tradução mais fiel seria Sãopedrolândia, e ia ficar muito
feio. São Petersburgo já mudou de nome e se chamou Leningrado, na época da
União Soviética.
Com o esfacelamento do comunismo depois da queda do muro de
Berlim, a cidade voltou a ser chamada do nome antigo, abandonando a
puxação-de-saco a Lênin. Lá, o Brasil vai ganhar da Costa Rica de 1x0. Em 1990,
na Copa da Itália, ganhamos também de 1x0 da Costa Rica, o que muitos consideraram
um mau presságio para a nossa vergonhosa atuação naquele mundial. Com aquele time e principalmente com aquele
técnico o desastre viria mesmo que ganhássemos de 23x0 dos costarriquenhos.
Fechamos a primeira fase na capital Moscou, onde pegaremos a
Sérvia. A força do futebol da ex-Iugoslávia, vice-campeã em 62, perdendo “pra
nóis”, estava nos jogadores da Croácia, aquela seleção que tem o uniforme mais
feio do mundo. O único sérvio que sabia jogar bola chamava-se Petkovic, e fez
merecido sucesso no Flamengo. Concluiu-se depois que ele era um brasileiro
nascido no lugar errado. Ainda assim só faremos um gol neles e sairemos da fria
Moscou com mais outro 1x0.
O Brasil nunca levou as eliminatórias a sério – por isso de duas
uma: ou sempre estraçalhamos todo mundo, como agora, ou quase não vamos para a Copa.
Mas sempre dá certo. Jogando pra valer, Tite nunca soube ser campeão que não da
base do um a zero em casa e zero a zero fora de casa. Vai ser assim na Copa, e
muito divertidas serão as entrevistas, com os jornalistas desesperados ante a
um Tite com os olhos grelados, falando como um profeta sobre a “jogabilidade”.
Até que na final pegaremos Messi – eu não sei por que país ele
joga (nem ele). Tomaremos uma tunda no meio das fuças, mas não vou discorrer
sobre isso para não dar uma de chatonildo.
Voltaremos nesta seção do Blog no ano que vem, com outro texto,
para esculhambar a convocação final do time brasileiro que viajará à Rússia. Até
lá!
NOTA DO EDITOR: E para esta copa, o UBQ tem o prazer de anunciar que teremos novamente a série “Uma Copa Qualquer”, com textos e resenhas diárias sobre os jogos da rodada. Além disso, Júnior Ferreira trará uma série especial sobre a música de cada país sede e Michel Vieira fará textos sobre os grandes momentos do futebol para ilustrar os fatos desta copa.
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