O blog sempre congregou textos sobre vários assuntos: reflexões pessoais, opiniões políticas, análise de produtos, ficção, contos, crônicas, pequenas pílulas do cotidiano.
Alguns blogs versam sobre assuntos especifícos: mundo geek, nerdices, coaching, cinema, filosofia. Um blog qualquer não... ele sempre foi uma pequena mistura caótica. Não um caos no mal sentido... mas um caos quando dizemos que ele fala de tudo um pouco.
E hoje eu vou falar um pouco de mim... vou falar um pouco de frustração profissional.
Eu nunca tive uma carreira profissional. Sequer cheguei perto disto. Em princípio, eu me formaria médico e ali talvez eu teria um consultório ou trabalharia em algum hospital, mas nunca me vi participando de congressos, simpósios e eventos como um renomado profissional.
Mas, como todos estão carecas de saber, a medicina não deu certo... não só não me formei em medicina como sai de Campinas sem nenhuma experiência profissional sem nunca ter trabalhado em nada.
Na época eu contava com 26 anos (acho que 27). Uma idade em que muitos já se aventuravam em pequenas empreitadas, como trabalhar em fast food como atendente ou em um shopping, ou ainda como estagiário em qualquer lugar.
Eu estava sem faculdade, sem diploma e sem trabalho. Deixava de ser um estudante universitário, passando a ser um desempregado sem qualificação formal.
Naquela época a situação financeira de casa não era das melhores. Eu precisava trabalhar com alguma coisa... qualquer coisa.
E a solução veio através de minha tia. Ela me arrumou um contato em uma escola de informática. Era um momento em que pipocavam escolas de informática: SOS, Microcamp, BitCompany, Microlins e tantas outras que existiam.
Foi numa escola de informática, no bairro da Vila Formosa, que eu comecei minha pseudo-carreira. Comecei como instrutor de informática. Ao contrário do que muitos pensam, não era uma tarefa que exigia grande habilidade intelectual: Bastava seguir o conteúdo da apostila.
Pensando bem sobre os conteúdos ensinados, aquilo era uma grande falácia... Lembro que no módulo de Sistema Operacional, os alunos precisavam aprender sobre utilização do paint e do bloco de notas.
Seja como for, bastava seguir o conteúdo da apostila, você usava um ou dois termos técnicos mais rebuscados e pronto... tínhamos ali um professor de informática.
Mas eu não era um professor... era apenas um instrutor.
Ingenuamente, eu acreditei que poderia ter uma carreira ali. Cresceria como instrutor, teria reconhecimento e poderia me sustentar assim.
Fiquei por dois anos... saí de lá e fui para outra unidade da mesma rede. Estava bem ali e ganhava até consideravelmente bem… mas acabei demitido por uma discussão que tive com outro instrutor. Ele largou uma aluna idosa no plantão de dúvidas com a qual ele havia se comprometido a ensinar. Ele não apareceu e a mulher ficou uma pistola. E descontou sua raiva em mim. O babaca continuou na escola e eu de novo desempregado…
Dali, eu migrei para outra franquia. Tive sorte de entrar em uma unidade recém inaugurada. Então consegui muitas turmas. E não posso reclamar... ganhei um bom dinheiro também.
Acho que meu erro foi não enxergar que aquilo não era uma carreira. Eu deveria ter investido em minha formação... fazer uma licenciatura... guardar dinheiro para voltar a estudar medicina… sei lá. Algo mais concreto.
Mas não o fiz. O que fiz foi jogar a vida de instrutor por um convite de um aluno para "gerenciar" seu laboratório de informática.
Em linhas gerais, era uma empresa de automação comercial, e o dono da empresa queria expandir para manutenção de computadores. E era aí que eu entrava. Um bom salário... muitas promessas. Mas de novo... não era uma carreira.
Ali, fiquei por pouco mais de dois meses. Ficou claro que não seria possível sustentar o negócio. O ramo dele era automação. As pessoas não queriam saber de arrumar computadores.
Com isso, voltei a dar aulas de informática. Desta vez em uma escola de pouca tradição. Existia a moda dos cursos profissionalizantes e entre tantas escolas, ali era somente mais uma.
Novamente, não percebi que ali não haveria uma carreira para mim. Mas eu estava mais preocupado em pagar contas e não tão preocupado em fazer uma carreira.
Insisti no erro por mais ou menos dois anos. Além de não ter crescimento profissional, eu também padecia de outro mal... a empresa não tinha uma gestão responsável e consequentemente, vivia no vermelho. Muitas vezes o pagamento atrasava e depois de muito assédio moral, dei um basta em tudo aquilo.
O problema é que o ano era 2007. Eu contava na época com 33 anos. Não tinha uma carreira, não tinha uma formação, estava desempregado e estava afundado em dívidas por conta da construção da casa.
Em razão de tudo isso, peguei a primeira oferta de trabalho que surgiu na minha frente (na verdade, foi meu pai que apareceu com a oferta). E não era uma oferta boa... na verdade, ao ver minha necessidade, o dono da empresa aproveitou a oportunidade para contratar mão de obra barata. E foi assim que eu arrumei um trabalho com um salário mensal de R$ 500 (eu ganhava cerca de R$ 2500 nas escolas) para fazer suporte help-desk.
Depois de um tempo ficou claro para mim que o dono da empresa tinha feito um favor para um amigo (que nem era o meu pai… mas um conhecido dele). E apenas isso. Eu nunca teria conseguido uma oportunidade de trabalho ali por mérito próprio.
Definitivamente eu não tinha uma carreira, não tinha um emprego decente. Eu tinha apenas um objetivo. Pagar contas. E ninguém cria uma carreira quando só pensa em pagar as contas.
O tempo passou e eu acabei por arriscar um concurso público. Foi assim que eu me tornei secretário de escola.
Quando entrei em 2009, ser secretário de escola significava ser o responsável pela gestão das atividades da secretaria de uma escola. Eu deveria cuidar da vida funcional dos professores e funcionários providenciando expedientes como quinquênio, licença-prêmio, evolução funcional, aposentadorias.
Também seria responsável pela vida escolar, onde providenciaria documentos como históricos, transferências e certificados. E por fim, ainda cuidaria de alguns expedientes administrativos da própria escola.
Quando comecei, eu confesso que me senti importante. Uma idiotice, eu sei, mas ainda assim, eu achei que estava fazendo algo importante.
Em 2011, a surpresa: o estado extinguiu o cargo de secretário de escola e criou a função designada de Gerente de Organização Escolar.
Teoricamente, como gerente eu teria mais atribuições e teria a responsabilidade de distribuir o serviço. Seria uma espécie de chefe.
Mas durante todos os anos que fui gerente, a única coisa que não consegui ser, foi chefe. A verdade... as pessoas estavam cagando e andando para o fato de eu ser gerente. E infelizmente, a maioria das pessoas com quem trabalhei faziam jus ao estigma de funcionário público encostado. Simples assim.
Mas ainda assim, eu sentia relevância no meu serviço. Sentia que o que eu fazia era necessário. E eu me sentia útil.
A convite de uma amiga, fui ser gerente em uma escola mais próxima de casa. E ali acho que foi o lugar onde fui mais feliz profissionalmente. Eu tinha uma equipe que trabalhava bem. Eu tinha o meu espaço para fazer minhas coisas. Estava tudo sob controle.
Mas é claro... eu tinha que colocar tudo a perder.
Por conta de uma discussão que tive com a coordenadora eu me enchi de tudo e de todos. Estava cansado de ver uma pessoa tão incompetente se manter no cargo tão somente por seu laços de amizade.
Isso era frustrante...
Assim, seduzido por um convite de um professor para ser gerente em uma escola de ciclo I eu pedi remoção da escola onde tudo estava bem.
E a partir daí, tudo começou a dar errado… de novo.
Errado, porque na remoção eu não consegui a vaga que desejava... fui parar numa escola que já tinha gerente e para piorar, a diretora da minha escola já tinha convidado outra pessoa.
E então eu tinha perdido minha posição de gerente.
Bom... de novo eu corri atrás de ganhar dinheiro. E fui atrás de uma designação na primeira escola que aparecesse.
E ela apareceu...
O problema é que tudo ali começou como uma grande mentira. Primeiro porque me disseram que a escola não tinha gerente. Tinha... a pessoa foi cessada para que eu pudesse ocupar a vaga.
Segundo, porque a escola tinha uma história bem ruim. Problemas de toda sorte. Desorganizada, mal estruturada e com um diretor extremamente centralizador e autoritário. Achei que meus anos como gerente seriam suficiente para suplantar tudo isso.
Não deu muito certo. Cansado de muitas coisas erradas, cansado de muito descaso com a coisa pública e cansado de maus profissionais, pedi minha cessação.
E isto enterrava minha chances de ser gerente em uma outra escola pelos próximos dois anos...
Eu até fiz um vídeo sobre isso no canal.
Restou então voltar aquela escola que já tinha gerente. E a bem da verdade, já tinha uma equipe bem definida. Não precisavam de mim ali. E o fato de eu ter dado as costas para a escola logo que removi também não pegou muito bem. As pessoas ali não aceitaram muito bem a ideia de eu remover e logo em seguida pedir para ir para outra escola.
Então, ali eu passei por 2 meses de profundo retrocesso.
Fui jogado a uma posição terciária (nem mesmo secundária). Minha única atribuição era ler diário oficial. E mesmo assim, era uma atribuição redundante, pois alguém lá já cumpria esta tarefa.
Fiquei jogado às traças... todo meu conhecimento sobre expedientes de vida funcional, os modelos que desenvolvi para utilização na secretaria. Todas as rotinas que criei... nada mais daquilo fazia parte da minha vida profissional.
E aí eu pirei...
Pirei de uma forma que nunca achei que pudesse pirar. Entrei em depressão e me sentia um inútil. Por conta disto, fui afastado do trabalho por 60 dias.
Eu estava oficialmente com depressão...
Para mim estava claro que eu não poderia continuar naquela escola. Eu também estava ciente de que não poderia voltar a ser gerente nos próximos 2 anos. E já que eu teria que ser somente secretário, tratei de procurar uma escola perto de casa. E assim, vim parar na escola que estou atualmente.
Fica a três quadras de casa... é uma escola de ciclo I e eu até fui bem acolhido.
Mas ao que parece, ter sido gerente não é uma boa anotação em meu currículo. As pessoas ficam com receio, acham que eu quero ser chefe ou algo similar e o pior... a equipe já está formada.
Fico com a sensação de que eu fui recebido apenas porque não tinha outra opção.
E de novo... aos poucos estão me colocando em tarefas secundárias.
Voltei a ler diário oficial. O que aliás, é a minha principal função.
E as vezes, minha única função...
Estão seguindo à risca aquilo que foi definido para a função em extinção do secretário de escola:
Tenho então funcionado como um apoio de luxo. Eu já me ofereci para ajudar. São 8 anos de experiência que podem servir para alguma coisa. Como eu já disse, não é minha intenção tomar o lugar de qualquer pessoa.
Mas mesmo diante dos meus protestos, continuo ali, nas atividades de apoio. Lendo diário oficial, organizando fichas remissivas e qualquer outro trabalho que ninguém está disposto a fazer.
Mas eu confesso que sinto falta de cuidar de processos, resolver problemas, sentir-me necessário. Sentir-me útil.
Acho que estou pirando de novo.
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