23 de outubro de 2016

Empreendedorismo

Algumas pessoas acreditam na falácia do “Dinheiro não traz felicidade”. Realmente, uma nota de R$ 100 por si só não cria nenhuma pessoa feliz. Ela depende de um contexto. Cem reais para pagar um multa de trânsito não é algo que podemos chamar de “feliz”.

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Bom… Quero falar das minhas tentativas de ganhar dinheiro com algumas ideias que tive.

Esta é a questão do empreendedorismo… ganhar dinheiro com seu trabalho assinado em carteira não é bem uma questão de empreender. Quando a partir de uma ideia sua você consegue gerar alguma renda… bom… aí temos o legítimo empreendedor.

Consultando alguns artigos sobre o tema, percebi que boa parte das pessoas que em algum momento empreenderam em sua vida, tiveram muitas vezes um insucesso. Mesmo os grandes empreendedores tiveram algum revés antes de acertar.

Eu ainda não acertei… E sendo muito honesto, parei de empreender. Mas tenho algumas tentativas que não deram em nada. Vou falar sobre algumas delas.

As aulas particulares

Dar aulas de reforço escolar foi minha primeira tentativa de ganhar algum dinheiro com uma ideia. E no caso, a ideia era bem simples: eu usaria meu conhecimento teórico para ensinar alunos do Ensino Médio e Fundamental, cobrando pelas aulas.

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A ideia, apesar de boa, esbarrou em um pequeno problema: eu estava apenas no 1º colegial (o que o povo chama hoje de 1ª série do Ensino Médio) e tinha pouco mais de 15 anos. Como eu poderia dar aulas de conteúdos que eu sequer vira na escola?

Ainda assim, eu consegui dois “clientes”. Minha mãe comentou com alguns vizinhos sobre minha empreitada e duas delas mandaram seus filhos para terem aulas comigo.

As falhas do meu projeto hoje estão bem claras: eu não tinha um produto, não sabia como estabelecer preço, não tinha método, nem conhecimento técnico.

Obviamente, o meu negócio de aulas particulares durou apenas umas três semanas.

A venda de cartões de descontos

Esta foi antes de tudo, uma grande burrada. Eu contava com 17 anos e estava no último ano do colegial (ensino médio é para os fracos e jovens…) e um amigo meu chamado Fábio sugeriu que arrumássemos um emprego com horário flexível para conciliarmos escola, vestibular e trabalho.

Assim, surgiu de algum lugar a proposta para participar de um treinamento para vendas diretas para lojistas. Fomos a uma palestra e o trabalho consistia em oferecer ao público um tipo de cartão de descontos.

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Funcionava assim, o cliente pagava uma anuidade pelo cartão (não lembro os valores exatos da época, mas algo como R$ 15 em valores atuais) e ele conseguiria obter descontos em lojistas selecionados. Acho que era um tipo de cartão fidelidade.

O problema é que para se tornar vendedor da tal promotoria de descontos você primeiro deveria provar ser capaz de fazer as vendas. Assim, você teria um lote de 50 cartões para revender até a próxima etapa do treinamento.

E claro que – por você neste momento estar em treinamento – não seria remunerado por nenhuma venda.

Eu e o Fábio pegamos os cartões e lá fomos vender para todo o tipo de cliente interessado. Comecei pelo lugar mais óbvio: meus pais.

Meu pai obviamente percebeu a armadilha, mas preferiu que eu tivesse uma aula prática sobre charlatanismo para que eu aprendesse alguma coisa sobre ganhar dinheiro. Ainda assim, ele comprou um cartão para ele e para minha mãe.

Durante alguns dias eu tentei vender o cartão. Fui ao mercado ao lado de casa, falei com os vizinhos, com alguns colegas da escola, mas sem grande sucesso. Em uma semana, vendi apenas dois cartões.

O Fábio também não estava com muita sorte. Tinha vendido apenas três. E já tinha desistido de vender os cartões. Eu estava mais resoluto. E então tive um plano: vou para um bairro mais afastado de casa. Talvez as pessoas não comprassem nada porque me conheciam.

Assim, fui para o bairro da Vila Maria bater de porta em porta.

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De novo, não tive muito sucesso. Escolhi uma rua bem comprida com muitas casas e comecei a tocar a campainha de porta em porta, perguntando se tinham interesse em comprar um cartão de descontos. Alguns potenciais clientes até me ouviram por 2 ou 3 minutos. Outros eram mais grosseiros. Andei por quase a rua toda até perceber o óbvio… Por que as pessoas pagariam por algo que elas poderiam pedir diretamente ao lojista?

Neste momento eu desisti da venda dos cartões e aguardei pela data de retorno para devolver o dinheiro e os cartões não vendidos.

Eis que um dia antes do prazo findar, pedi ajuda a meu pai oferecendo a ele que comprasse todos os cartões restantes e distribuísse aos clientes do posto de gasolina em que ele era proprietário na época como uma forma de promoção. Não sei se por pena, dó ou piedade ele aceitou a proposta. O fato é que com isso eu garantiria a venda de todos os 50 cartões.

No dia seguinte, fomos eu e o Fábio. Eu estava triunfante… e o Fábio, resignado.

Chegamos lá e o Fábio devolveu todos os cartões e saiu. Quando chegou minha vez, a moça que recebeu o dinheiro dos cartões me agradeceu e disse para preencher a ficha cadastral para a segunda fase do treinamento.

E aí, veio a surpresa… um outro rapaz pegou minha ficha para analisar e disse que eu não estava qualificado para o treinamento pois era menor de idade, mas que poderia fazer uma nova revenda de um lote de 500 cartões, pelo prazo de 30 dias. E eu receberia uma comissão de 3% das vendas… caso vendesse o lote todo. Senão, a comissão seria de apenas 2%.

Fez as contas? É… eu também. Em valores atuais, meu salário mensal seria de R$ 225, sem contar minhas despesas de transporte e alimentação.

Se isto fosse hoje, não conseguiria nem recarregar o bilhete único mensal.

E aí percebi novamente as falhas do meu empreendimento… na verdade, empreendedor era o cara que criou o sistema de vendas do cartão. Ainda que na picaretagem, ele conseguia vender sua ideia (o cartão) para pessoas que provavelmente nunca usariam o tal desconto. Um vendedor de fumaça.

O consultor de informática

Tentei então trabalhar com consultoria. Em minha imaginação bem fértil, acreditei que alguns anos trabalhando em escolas de informática me habilitavam a prestar consultoria na implantação de sistemas de informação em empresas pequenas.

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Criei um site (aliás, o site que deu origem ao blog) oferecendo montagem e manutenção de computadores, construção de sites, implantação de redes. Um verdadeiro “pau pra toda obra”.

A questão é que eu continuei com as aulas de informática e esqueci que se você presta serviços para empresas, você tem que estar disponível para atender a estas empresas. Aí, comecei a perder clientes com a mesma velocidade que os ganhei pelo simples fato de que eu quase sempre não tinha condições de retornar a empresa.

O site de cartas

Fiquei um bom tempo sem empreender. Mesmo porque depois dos cartões, fui para o cursinho e fui para a faculdade. Quando voltei de Campinas, fui trabalhar como instrutor de informática e não pensava em empreender, apenas em trabalhar e ganhar algum dinheiro para voltar à Campinas e completar a faculdade.

Depois fui engolido por aquilo que se chama vida. E fiquei um bom tempo absorto com o trabalho.

Apenas em 2015 – eu voltei a jogar Magic. E logo percebi que algumas cartas poderiam atingir valores altos.

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Como eu tinha muitas cartas antigas e boas, pensei que poderia vendê-las com algum lucro. Foi então que criei a Magic Tower. A ideia era ser uma loja compra e venda de cards usados.

Fiz a loja virtual e coloquei alguns cards a venda. Depois de 1 mês no ar, nenhuma venda.

Nesta época, eu já estava mais calejado e percebi um pouco mais rápido meu erro. Primeiro: já existia um local para compra e venda de cards. Um grande portal sobre Magic chamado Liga Magic já oferecia o serviço na forma de bazares criados pelos usuários cadastrados no site. E ali havia um sistema de avaliação dos vendedores, criando um sistema bem mais seguro. Além disso, eles também vendem uma solução de e-commerce para lojas virtuais. Os sites de vendas pertencem normalmente à lojas físicas já estabelecidas no mercado. Neste caso, meu erro foi não fazer uma simples pesquisa sobre o mercado de card games

O que aprendi com tudo isso?

Pois é… estas foram as minhas quatro tentativas de empreender. Não tive sucesso em nenhuma delas. Hoje é fácil perceber que em todos os casos faltou planejamento e pesquisa.

Mas a lição mais interessante que aprendi é que uma ideia pode ser boa. Mas nem sempre ela pode se tornar um negócio rentável. Principalmente se você for um curioso. Empreender não é para curiosos.

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