8 de julho de 2014

Memento mori

Comecei a me simpatizar com Neymar quando percebi que dentre as várias tatuagens que ostenta, tem uma no pescoço que diz "tudo passa". Ficou uma aura de maturidade. Essa fratura na vértebra vai se consolidar até rapidamente, e em muito breve ele estará jogando. Em suma, tudo passa.

Corta para Roma antiga. Ao final das grandes conquistas, os generais romanos desfilavam em triunfo de volta à cidade, aclamados por todos como semideuses. Por orientação dos sacerdotes, no desfile de honra um soldado ia do lado do general, sussurrando em latim a todo momento no seu ouvido: "memento mori" , que numa tradução mais livre fica "lembre-se de que és um mortal". Aquilo não era só um "baixa-bola", um lembrete de que por mais poderoso que parecesse, o líder era um mortal como qualquer um ali. Mais que isso, era um conselho para que o general redobrasse a atenção, a fim de se proteger da sanha invejosa de seus inimigos.

O lateral colombiano, de quem já me esqueci do nome, foi feito de boneco por Neymar o jogo todo. Teve a indignidade de dar o golpe sem misericórdia já com o jogo perdido para seu time. Foi sim uma atitude invejosa, na clássica definição já lembrada neste Blog por Ricardo Marques: Inveja não é querer ter o que é do outro, mas querer que o outro não tenha o que quer. Uma entrada à traição, pelas costas com vários agravantes jurídicos que certamente serão considerados para puni-lo. Neymar não simulou esta falta, não fingiu dor, nem foi ela fruto de uma firula desnecessária. Foi sim, fruto da glória de um líder, a quem faltou um soldado para soprar-lhe no ouvido a famosa frase. Daqui por diante, cada vez que for entrar em campo, Neymar se lembrará dela.

O lado bom é que restou à Seleção Brasileira... o futebol. Com a saída do principal jogador, saem as teorias imbecis de Copa comprada, dá-se um descanso ao superfaturamento dos estádios, às regalias concedidas à FIFA e aos esquemas táticos de Felipão para encarar os alemães. Em 62, quando os tchecos quebraram Pelé, Amarildo, apelidado por sua atuação de "Possesso", entrou no time e deu conta - mas contávamos com Garrincha, Zagalo, Didi, Gilmar e outros. Em 98, quando Ronaldo quebrou-se a si mesmo, não tínhamos uma comissão técnica à altura, ou acharam que Edmundo entraria Possesso sem aspas em campo e acharam melhor remendar o Fenômeno.

O que temos agora é um país finalmente unido com toda força, um time que quer provar que sobrevive à falta de seu ídolo e um técnico que lida muito bem com este tipo de adversidade. Tudo de belo, de trágico, de grandioso que envolve este que é muito mais que um esporte. Vamos mostrar, sem medo de parecer alienados, quem é que manda nesse terreiro aqui. E a Neymar será concedida finalmente a virtude da superação, oferecida aos escolhidos dos deuses. E como cereja de bolo, a seleção entra perdoada se não vencer. Pobres tedescos.

Memento mori, Schweinsteiger!


Nota do Editor: a foto foi adicionada após a derrota do Brasil (como será explicado posteriormente em outro texto). Mas é pertinente ao momento... Apesar do massacre, a Alemanha (e não só o Schweinsteiger) deverão se lembrar que são mortais... E que a copa não acabou

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