1 de dezembro de 2016

A força do Bem

A tragédia com a Chapecoense foi a mais violenta envolvendo times de futebol. Foram 76 mortes. Ato contínuo à tragédia foram as manifestações vindas de todas as partes do mundo. Desde o grupo de rock Guns´n Roses até Cristiano Ronaldo, que doou três milhões de Euros, passando pelo Benfica que ofereceu alguns de seus jogadores e chegando ao Libertad do Paraguai que ofereceu o elenco inteiro. Comoveu-nos a todos a atitude do Atlético Nacional, adversário da Chapecoense na decisão, que pediu à Conmebol que entregasse a taça de campeão da Sul-Americana aos catarinenses.

Resultado de imagem para Chapecoense em luto

Nem é a primeira tragédia envolvendo times em aviões, nem será a última, infelizmente. Talvez a primeira tenha sido a do Torino, time da Itália, que em 1949 voltava de um amistoso em Portugal quando o avião se chocou com a muralha de um mosteiro. E também gerou uma grande manifestação de bondade coletiva: a federação italiana não quis dar uma quarentena ao clube de Turim (cogitada pela CBF ao Chapecoense), e não restou alternativa a não ser atuar com o time juvenil. Como resposta, todos os outros times do campeonato italiano atuaram também com juvenis quando o jogo era com o Torino, que acabou ficando com o título.

Por aqui, as ações vicejam aos quatro cantos: o Palmeiras quer entrar em campo no próximo jogo com o uniforme da Chape. Um torcedor são-paulino sugeriu uma camisa que de tricolor iria a bicolor, trazendo a camisa branca com as duas listras horizontais, antes vermelha e preta, tornadas verdes. O Corinthians tingiu sua página da internet de verde, tolerando uma heresia imperdoável em nome da homenagem. São muitos e belos os exemplos, como a torcida do Atlético Nacional lotando o estádio em Medellín mesmo sabendo que a partida não se daria, para gritar o nome do adversário e não aceitar a própria vitória pelo trágico “WO”. E todos têm a mesma importância e dimensão das nossas manifestações pessoais, desde rezar até mudar a foto nas redes sociais, colocando o "Força, Chape".

Charge sobre a Chapecoense

Sim, teve coisa ruim, como o sensacionalismo do Catraca Livre, cuja emenda ficou pior que o soneto. Que o site caminhe para a merecida sarjeta, assim como a (até então brilhante, pois é…) carreira de seu editor Gilberto Dimenstein. Teve ainda a ganância e safadeza da empresa de aviação boliviana que disponibilizou para a equipe brasileira um avião com 17 anos de uso (cujo modelo saiu de linha porque gastava muito combustível), e autonomia de vôo de 3000 quilômetros, sendo que a distância que voaria seria de... 2900. Qualquer imprevisto poderia ser fatal e aconteceu de o vôo da Chape ter que esperar um Airbus que foi passado na frente na fila de aterrissagem exatamente porque alegou ter... pouco combustível. O piloto boliviano não foi enfático o suficiente com a torre de controle, bastava assumir a pane seca. Um acidente com esta dimensão trágica parece ter uma explicação muito simples e isto choca mais ainda.

Tragédias assim nos colocam pequenos. Vemos que nada é mais fino que a matéria viva. A perturbadora vulnerabilidade que nos toma de assalto precisa ter uma resposta à altura, para que não nos oprima tanto. Encontramos esta resposta no Bem. Na forma mais anti-Russeauniana possível. Como se fôssemos naturalmente maus e um choque civilizatório nos levasse em direção à bondade. Descobrimos que no Bem está a verdadeira força, o combustível da coragem para seguir adiante, sem perguntar a Deus o porquê de tudo isso acontecer, mas respondendo a Ele que seremos dignos e melhores do que éramos para merecer a dádiva da vida.

Assim, tomados pela dor, esperamos honrar aqueles que pereceram na Colômbia prestes a disputar o jogo mais importante de suas vidas. Que nossas sinas continuem de modo diferente, agora que vimos que de um impossível chão de maldades, vilanias e torpezas próprios da raça humana pôde brotar uma irresistível solidariedade, que se não nos absolve de nossos defeitos, pelo menos nos conforta e acima de tudo nos une.

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