Amigos, eu acredito na humanidade. Eu creio que seremos um mundo bão.
Por isso, e principalmente pelo fato de estar de atestado médico, acamado, sem poder sequer pegar no colo meu mais novo de um ano, começarei uma empreitada hercúlea: a de pelo menos sujar os cérebros dos menininhos e menininhas que foram tão lavadinhos na escola. Chama-los-emos de Mortadellers por razões relativas ao pagamento que recebem para apoiar um governo que rouba e afunda um país. Essa série não será para a dona do Magazine Luiza, nem para o Eike Batista. Eles apoiaram o governo e receberam bem mais que mortadela.
Tentaremos ser didáticos e breves dentro do possível. Caro Mortadeller, os textos aqui são incrivelmente mais fáceis que os de Marx, Foucault, Gramsci e Zizek (sim, eu sei que tem uns sinais gráficos por cima dos Z´s do sobrenome do cara. Mas ao contrário de você, eu sei mais sobre ele). Ok, você nunca leu nada destes caras aí. Tá bom. E se eu prometer que será mais fácil que os do Tico Santa Cruz ou do Durvivier? E mais curto que os do Sakamoto? E com menos referências que os do Stafale? Eu, ao contrário de você, Mortadeller, leio essa turma toda. Não me faz mal não. Eu leio até o Diário do Centro do Mundo. Palmeirenses suportamos fortes emoções.
Aceita o desafio? Vambora? Você já leu dois parágrafos de um reacionário. Morreu? Se o Mauro Iasi não souber, você vai continuar vivo, fera.
Então vamos lá: a aulinha de hoje é sobre "perda de grau de investimento"
Olha só, enquanto você e seus 04 amiguinhos estavam debaixo do Masp xingando gente como eu que estava trabalhando, as agências internacionais rebaixavam a nota do país para que invistam aqui. Já somos considerados como de "padrão especulativo".
Deixa que eu te diga uma coisa. Isto é beeeem chato. Mais chato que você não ter conseguido ingresso para o show do David Gilmour. Sabe por quê, criança? Porque assim fica mais difícil o governo pagar a dívida pública (faremos uma aulinha só de dívida pública, fique em paz).
E é chato por uma razão muito simples. O governo do Brasil tem pouco dinheiro no seu nome. Não se desespere, porque o governo da Itália e o da Inglaterra tem menos ainda. Por isso, para pagar a dívida imensa, ele tem que tirar de você, na forma de impostos. Esse é um jeito, mas é um jeito antipático. Existe um outro jeito que é a emissão do que se chama "Títulos da Dívida". São papéis vendidos a determinados sujeitos bem ricos, que também garantem a entrada de dinheiro no caixa do governo.
Vamos dar um exemplo: eu sou um país endividado até as cracas e emito um Título da Dívida que vale dez reais. Daqui a um tempo, conforme a minha atuação no governo, esse papel vai valer vinte reais e quem comprou por dez revende por vinte e todos ficam felizes. Para que este papel valha vintão, ou pelo menos mais que os dez iniciais, é preciso que uma coisinha aconteça: sendo ele um título da dívida, é importante que eu, como governo, consiga pagar, ou pelo menos mostrar que posso pagar minha dívida pública num espaço de tempo decente. Até aí beleza?
Bom, antes de continuarmos, deixa que eu te diga quem são estes "sujeitos" que compram esses papéis. Inicialmente, saiba que Títulos da Dívida não são comprados como mortadela. Não vende na padoca. Muito menos os "sujeitos" são pessoas ricas a dar com o pau que ficam se divertindo comprando e vendendo títulos, enquanto você se diverte ocupando reitorias. A maioria dos clientes são os FUNDOS DE PENSÃO. Tem um monte por aí.
Grosso modo, um Fundo de Pensão é uma entidade criada para fazer render o dinheiro que categorias de funcionários de determinado setor recolhe para suas aposentadorias. Pra você se situar, você deve ter ouvido falar na Previ. É um fundo de pensão que administra o dinheiro da aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil. E não pense que só compram e vendem títulos da dívida. A Previ foi uma das maiores investidoras e é, pode-se dizer, dona de grande parte da Vale - aquela que te disseram que foi privatizada.
Em resumo, um Fundo de Pensão cuida do dinheiro de muita gente, que vai precisar muito dele daqui a um tempo, e exatamente por isso tem que ter muita responsabilidade ao investi-lo. Estamos falando aqui de investimentos de uma quantidade absurda de dinheiro, cuja perda traria catástrofes inimagináveis.
Voltemos aos papéis da dívida. Eles vão dar mais retorno lá na frente, tão maior for a capacidade de o país conseguir pagar sua dívida num prazo razoável, certo?
Os Fundos de Pensão têm mais o que fazer do que ficar fuçando nas economias dos países para ver se eles podem ou não pagar as suas dívidas públicas. Para isso existem agências internacionais que, elas sim, analisam se as contas dos países estão pagáveis ou não. Quanto mais pagável, maior a nota do país, e ali o investidor sabe que a chance de ganhar é grande. Imagina a pressão do pessoal que opera o Fundo de Pensão dos Correios, o Postalis. Eles sabem (ou pelo menos deveriam saber) que não podem brincar com a aposentadoria dos nossos amigos carteiros. Então irão comprar títulos de países bem avaliados.
E como é divulgada essa avaliação? De um jeito parecido com o que sua mãe fazia, grudando estrelinhas na geladeira conforme seu comportamento. Mais estrelinha = mais mesada. Menos estrelinha = dormir depois do Jornal Nacional.
Pois é. Hoje o Brasil perdeu estrelinhas, isso porque já tinha poucas.
As agências internacionais fazem isso não por serem bobas, chatas e feias, muito menos porque o Eduardo Cunha mandou. Fazem isso porque o Brasil vai mostrando que cada vez mais pode pagar suas dívidas cada vez menos. Então, não vai entrar dinheiro no bolso do governo por essa via.
Só tem outro jeito do governo encher o bolso dele, que é esvasiando o nosso. Isso é feito aumentando impostos. É, a gente sabe que é chato. É chato também saber o quanto foi desviado para Suíça ou pra outro escambau qualquer. É chato também saber que tiraram da Petrobrás até praticamente falir aquilo tudo.
Para terminar, existe uma lei onde se lê que todo ano o orçamento do governo precisa fechar no azul, ou seja, o governo precisa arrecadar mais do que gasta. A lei é toda explicadinha, praticamente uma receita de bolo. Dá dicas tipo até quanto se deve gastar em folha de pagamento. É bem interessante e se chama "Lei de Responsabilidade Fiscal". Na Constituição, existe uma lei que manda abrir processo de impeachment para o governante que não cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal. A Constituição sabe da importância do cumprimento desta lei, porque assim as estrelinhas na geladeira ao lado do nome do Brasil se multiplicam, e o din-din vem mais de fora, e os impostos não precisam ser tão altos e a inflação fica sob controle, os juros baixos e todos ficam felizes - em tempo, teremos também aulinhas de "Inflação"e "Política de Juros".
Dilma Rousseff, sabendo que a boca ia esquentar feio, deu uma maquiada no orçamento apresentado ao Tribunal de Contas da União - as "Pedaladas Fiscais" (vai ter aulinha disso tambéééém!!!). Ela assim comete dois crimes: o primeiro de malversação do dinheiro público. O segundo de decoro, pois é feio tentar enganar o TCU. Notadamente por conta do primeiro crime, o processo de impeachment pode ser aberto se houver base legal, e há.
Notadamente por tudo isso, as agências internacionais colocaram nossa nota praticamente como valor especulativo - ou seja, comprar o título da dívida brasileira é como jogar na loteria. Quando o dinheiro não entra dessa forma de jeito nenhum, o governo vai fazê-lo entrar com juros altos, que geram dólar e inflação também altos. Aí a atividade econômica cai - as pessoas não compram e as empresas produzem menos e aumenta o desemprego. Isso se chama recessão.
Este é o segundo ano seguido de recessão. A última vez que tivemos tal situação foi em 1930-31, por conta da crise de 29 (pra essa não vai ter aulinha. Ou dê um google ou assista "A Rosa Púrpura do Cairo", do Woody Allen). Agora, por mais que a petezada tente culpar alguém que não eles mesmos, a culpa é deles.
A parte boa é que continuamos uma democracia. Você pode escolher seguir nosso cursinho ou pegar uma sombrinha esperta, movida a sanduíche de mortadela com tubaína no vão livre do Masp para defender que Dilma continue a fazer o que está fazendo com você.
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