12 de janeiro de 2014

Porta dos Fundos e a religião

“Ridendo castigat mores”
(O riso castiga os costumes)

Cícero in “Da República” – 51 A.C.

Lá se vão alguns anos que a sociedade discute aquilo que é humor e tenta diferenciar o humor daquilo que é ofensa. Muitos humoristas em maior ou menor intensidade foram submetidos ao julgamento público sobre aquilo que eles acreditam ser humor.

Talvez o episódio de maior repercussão tenha sido o comentário do humorista Rafael (Rafinha) Bastos que durante exibição ao vivo do programa CQC de 19/09/2011. Curioso que todo na bancada riram, a plateia riu… visivelmente foi uma piada. Mas foi uma piada onde uma pessoa alegou ter sido ofendida. Desta forma, a parte ofendida procurou na justiça a reparação. O humorista foi afastado do programa, perdeu contatos publicitários e só agora – depois de de mais de 2 anos – começa a reaparecer com seu trabalho.

Caso seja de seu interesse, veja o vídeo neste link.

A bola da vez parece ser o humorístico Porta dos Fundos. Um fenômeno de audiência na internet. Em seus vídeos, são mostradas esquetes que satirizam algumas situações inusitadas, como por exemplo a brincadeira com o nome na lata de refrigerante ou então a briga entre estátuas vivas.

Entre outros temas, abordam o comportamento, a política, o futebol, o adultério, a homossexualidade, a corrupção, a relação pais e filhos, o telemarketing (aliás, genial) e também a religião. Em alguns vídeos eles fazem escárnio deles mesmos.

E por conta da religião, começa agora uma espécie de caça às bruxas. O vídeo que gerou toda a polêmica foi o do especial de Natal. Um vídeo que satirizou diversas passagens bíblicas.

Copyright 2013–Porta dos Fundos

O vídeo teve mais de 4 milhões de acessos até o momento e recebeu em torno de 111 mil avaliações positivas e 25 mil avaliações negativas. Isto significa que da audiência total, cerca de 0,6%. Numericamente falando, irrisório.

Apesar disto, há que se respeitar a opinião desta parcela mínima. Mas respeitar esta minoria não significa deixar de fazer este humor ácido. Acho que o melhor a fazer é: se não gostou, não assista. Foi uma piada… uma piada. Algo para rir, para entreter.

Em algum momento, existe sim a crítica aos costumes. Mas o escárnio é isto: a graça está em tornar absurdo o lugar comum. E daí vem o riso.

Acho que neste caso, a máxima atribuída a Cícero cabe perfeitamente. Criticamos os valores, respeitamos a diversidade, mas criticamos. É o direito de criticar e ser criticado. Se a crítica lhe ofende, ignore-a. Ou então vá atrás de uma reparação.

Minha opinião: criou-se aqui um cavalo de batalha inútil. Sobre o tema, recomendo a leitura da ótima crítica da Prof.ª Debora Diniz que comentou com mais propriedade sobre o tema.

Não importa qual seja sua crença, religião, ou valores morais… Não sejamos bobos… é uma piada. Deve ser visto apenas como uma piada.

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