Antes de tudo, quero fazer uma breve apresentação. O meu nome é Miguel Forlin. Sou crítico de cinema e escrevo nos sites Formiga Elétrica e Bastidores.
A pedido de Ricardo Marques, o meu querido amigo e parceiro de podcast (caso o leitor não tenha nos ouvido, acesse a nossa página no Sound Cloud), resolvi escrever sobre o Oscar.
Porém, em vez de fazer algo mais formal, o meu texto será dividido em tópicos. Em primeiro lugar, informarei os indicados de uma determinada categoria (falarei apenas daquelas que mais atraem o público geral). Depois, revelarei o meu favorito e, em seguida, qual será o provável vencedor. Vamos lá?!
Melhor Filme
Estes são os indicados:
- A Chegada
- A Qualquer Custo
- Até o Último Homem
- Estrelas Além do Tempo
- La La Land – Cantando Estações
- Lion: Uma Jornada Para Casa
- Manchester À Beira-Mar
- Moonlight: Sob a Luz do Luar
- Um Limite Entre Nós
O meu favorito é “A chegada”.
Considerei “A Chegada” o melhor filme do ano passado. Embora tenha a aparência de uma ficção científica, no fundo, a obra é um conto intimista, melancólico e profundamente comovente sobre a morte.
Ancorado pela atuação sóbria de Amy Adams e a direção virtuosa de Denis Villeneuve, o longa oferece ao espectador uma experiência inesquecível. Infelizmente, apesar de ter tido uma recepção positiva da crítica internacional, “A Chegada” não é o tipo de filme que a Academia costuma premiar.
Pode-se dizer que ainda existe um receio por parte de seus membros de consagrar um projeto repleto de efeitos especiais e com um verniz de ficção científica. Bem, o problema é deles. De todos os indicados, “A Chegada” é um dos poucos longas perfeitamente realizados.
Caso tenha interesse, em mais detalhes, leia a crítica que escrevi sobre o filme clicando neste link.
Provável vencedor: “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
Se fôssemos nos guiar por algumas das premiações que servem de termômetro do Oscar – como o Producers Guild Awards -, “La La Land – Cantando Estações” seria o favorito a vencer o prêmio de Melhor Filme. Seguindo esse mesmo raciocínio, “Estrelas Além do Tempo”, que foi o vencedor na categoria de Melhor Elenco no SAG Awards (mais um que serve como termômetro), seria o outro favorito a levar o prêmio.
No entanto, em razão da polêmica envolvendo a falta de diversidade entre os indicados do ano passado, existe uma grande possibilidade do Oscar usar a premiação deste ano para fazer uma espécie de reparação. Nesse sentido, “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, um filme que trata de questões raciais e sexuais, representaria a oportunidade perfeita. Além disso, a obra tem sido muito elogiada por críticos ao redor do Mundo (elogios com os quais eu não concordo).
A crítica completa que escrevi sobre o filme pode ser conferida clicando neste link.
Melhor Diretor
Os indicados são:
- Barry Jenkins, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
- Damien Chazelle, por “La La Land – Cantando Estações”
- Denis Villeneuve, por “A Chegada”
- Kenneth Lonergan, por “Manchester À Beira-Mar”
- Mel Gibson, por “Até o Último Homem”
O meu favorito: Denis Villeneuve, por “A Chegada”
O cineasta canadense é um dos nomes mais interessantes que surgiu nos últimos anos. Começou a sua carreira fazendo filmes mais experimentais, flertou posteriormente com o cinema autoral e, já em Hollywood, se transformou num versátil e brilhante diretor de obras mais “comerciais”. Dirigindo a sequência de “Blade Runner – O Caçador de Andróides” e já confirmado como o diretor do remake de “Duna”, Denis Villeneuve realizou, em “A Chegada”, a sua maior obra-prima até o momento. Premiá-lo com o Oscar de Melhor Diretor seria uma ótima maneira de consagrar a sua curta, mas impressionante filmografia.
Provável vencedor: Damien Chazelle, por “La La Land – Cantando Estações”
Essa categoria me parece ser uma das poucas em que há uma unanimidade de escolha, já que Damian Chazelle tem saído como o vencedor em quase todas as premiações dos últimos meses. Além disso, os membros gostam de laurear talentos precoces. Para eles, isso é uma uma forma de incentivo e apoio. Como o diretor de “La La Land – Cantando Estações” tem apenas 32 anos de idade, as suas chances de ganhar são ainda maiores.
Melhor Ator
Os indicados:
- Andrew Garfield, por “Até o Último Homem”
- Casey Affleck, por “Manchester À Beira-Mar”
- Denzel Washington, por “Um Limite Entre Nós”
- Ryan Gosling, por “La La Land – Cantando Estações”
- Viggo Mortensen, por “Capitão Fantástico”
O meu favorito: Casey Affleck, por “Manchester À Beira-Mar”
Lee Chandler, o personagem interpretado por Casey Affleck em “Manchester À Beira-Mar”, é um sujeito de cenho fechado, voz quase inaudível e postura defensiva. Mas, ao mesmo tempo, é uma pessoa capaz de inúmeros rompantes de violência e agressão. Para expressar essa aparente fragilidade, Affleck usa o seu timbre fino e os gestos comedidos. E para oferecer um vislumbre da montanha de sentimentos que acometem o personagem internamente, o ator dispõe de seu olhar comovente, difíceis inflexões na voz e raras mudanças na expressão facial. É uma composição omplexa e estudada. Percebe-se o trabalho árduo do ator para dar vida a esse personagem incrivelmente humano. Por isso, Casey Affleck é o meu favorito.
Provável vencedor: Casey Affleck, por “Manchester À Beira Mar”
Acho que essa é uma das poucas categorias em que o provável vencedor também é o meu favorito. Entretanto, Denzel Washington, depois de levar o prêmio de Melhor Ator no SAG Awards, é um nome que chega forte ao Oscar. Mas, ainda assim, acho que o irmão de Ben Affleck será o vencedor. Em todo caso, dificilmente o prêmio não vai para um desses dois atores.
A minha crítica de “Manchester À Beira-Mar” pode ser conferida clicando neste link.
Melhor Atriz
As indicadas são:
- Emma Stone, por “La La Land – Cantando Estações”
- Isabelle Huppert, por “Elle”
- Meryl Streep, por “Florence: Quem é Essa Mulher?”
- Natalie Portman, por “Jackie”
- Ruth Negga, por “Loving”
A minha favorita: Natalie Portman, por “Jackie”
Além de criar com exatidão a voz e os trejeitos de Jacqueline Kennedy, Natalie Portman tem a dífícil tarefa de levar um filme centralizado na sua atuação. Felizmente, assim como em outros filmes, a atriz entrega uma performance hipnótica. É através de seus olhos, respiração, jeito de andar e voz que mergulhamos no luto enfrentado por Jackie nos dias seguintes à morte de seu marido, o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy. Isabelle Huppert é outra que merecia levar o prêmio. Seria a cereja do bolo de uma carreira magistral. Porém, analisando as duas atuações em particular, considero a de Portman a mais tecnicamente complexa.
Provável vencedora: Emma Stone, por “La La Land – Cantando Estações”
A carismática atriz foi a vencedora no SAG Awards e no Globo de Ouro (na categoria de Melhor Atriz em Filme Musical ou Comédia). Por isso, ele é a favorita. Emma Stone está bem no filme. Suas habilidades para cantar e dançar são apenas razoáveis, mas o seu carisma e a força da sua atuação nos momentos mais dramáticos chamam atenção positivamente. Entre as indicadas, Natalie Portman e Isabelle Huppert se saíram melhor, mas dar o prêmio para Stone não seria totalmente injusto.
Melhor Ator Coadjuvante
Os indicados:
- Dev Patel, por “Lion: Uma Jornada Para Casa”
- Jeff Bridges , por “A Qualquer Custo”
- Lucas Hedges, por “Manchester À Beira-Mar”
- Mahershala Ali, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
- Michael Shannon, por “Animais Noturnos”
O meu favorito: Michael Shannon, por “Animais Noturnos”
“Animais Noturnos” foi um dos filmes mais injustiçados no Oscar deste ano. O segundo longa metragem de Tom Ford é emocionalmente violento, doloroso, intenso e esteticamente exuberante. A direção é segura, a fotografia é temática, o design de produção é criativo e as atuações, viscerais. E, ainda assim,no meio de toda essa qualidade, é a atuação de Michael Shannon um dos elementos que mais se destacam.
O seu xerife moribundo e eticamente ambíguo é hilário. Os raros momentos de humor na densa narrativa do filme se devem exclusivamente à sua participação.
A minha crítica de “Animais Noturnos” pode ser conferida neste link.
Provável vencedor: Mahershala Ali, por “Moonlight: Sob a luz do Luar”
Apesar de participar pouco, Mahershala Ali interpreta o personagem mais interessante de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Por sua atuação no filme, o ator levou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no SAG Awards. Caso ele seja o vencedor no Oscar, a estatueta estará em boas mãos. Mas, novamente, talvez a sua vitória esteja ligada à polêmica da falta de diversidade entre os indicados do ano passado. Porém, seria injusto dizer que o ator ganhará por causa disso. A sua performance é contundente e extremamente competente.
Melhor Atriz Coajuvante
As indicadas:
- Michelle Williams, por “Manchester À Beira-Mar”
- Naomie Harris, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
- Nicole Kidman, por “Lion: Uma Jornada Para Casa”
- Octavia Spencer, por “Estrelas Além do Tempo”
- Viola Davis, por “Um Limite Entre Nós”
A minha favorita: Michelle Williams, por “Manchester À Beira-Mar”
Michelle Williams participa pouco em “Manchester À Beira-Mar”. No entanto, há uma cena que ela protagoniza ao lado de Casey Affleck que é, provavelmente, o momento dramático mais intenso levando em conta todos os outros que concorrem ao prêmio de Melhor Filme. Em poucos minutos, sabemos tudo o que a sua personagem sente. O resultado que ela atinge nessa cena é uma coisa rara de acontecer. Em decorrência disso, merece todos os prêmios possíveis.
Provável vencedora: Viola Davis, por “Um Limite Entre Nós”.
Viola Davis está muito bem num filme que merecia mais atenção do público. Como ela venceu o Globo de Ouro e o SAG Awards, ela é a favorita. A minha única ressalva é que a sua personagem não é coadjuvante. Depois do protagonista, ela é que mais participa no filme. Deveria estar concorrendo na categoria de Melhor Atriz.
Melhor Roteiro Original
As indicações:
- Damien Chazelle, por “La La Land – Cantando Estações”
- Kenneth Lonergan, por “Manchester À Beira-Mar”
- Mike Mills, por “Mulheres do Século XX”
- Taylor Sheridan, por “A Qualquer Custo”
- Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou, por “A Lagosta”
O meu favorito: Kenneth Lonergan, por “Manchester À Beira-Mar”
O texto de “Manchester À Beira-Mar” tem a grandeza de um texto teatral, onde os personagens são humanos, os diálogos são ricos e as situações são complexas em todos os sentidos, mas com uma sensibilidade cinematográfica de encher os olhos. Até o momento, é a maior realização de Kenneth Lonergan.
Provável vencedor: Damien Chazelle, por “La La Land – Cantando Estações”
Acho que o Damien Chazelle vencerá se “La La Land – Cantando Estações” não levar o prêmio de Melhor Filme. Caso contrário, o roteiro de “Manchester À Beira-Mar” pode sair da noite do Oscar como o vencedor de Melhor Roteiro Original. Vale lembrar que no Globo de Ouro o texto de Damien Chazzelle foi o ganhador.
Melhor Roteiro Adaptado
Eis os indicados:
- Allison Schroeder e Theodore Melfi, por “Estrelas Além do Tempo”
- August Wilson, por “Um Limite Entre Nós”
- Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
- Eric Heisserer, por “A Chegada”
- Luke Davies, por “Lion: Uma Jornada Para Casa”
O meu favorito: Eric Heisserer, por “A Chegada”
Embora a peça teatral de August Wilson seja soberba, quando vi o filme e depois li o livro, percebi que a adaptação não foi muito difícil (foram feitas apenas algumas alterações). Essa é a única razão pela qual o roteiro de “Um Limite Entre Nós” não é o meu favorito. Já a adaptação de Eric Heisserer foi mais trabalhosa. O roteirista pegou um conto apenas razoável de Ted Chiang e transformou num texto repleto de camadas de interpretação. Além disso, construiu um quebra-cabeça mais sutil, dando espaço para o espectador ir montando as peças aos poucos. Isso sem falar do belíssimo trabalha realizado na construção da protagonista interpretada por Amy Adams.
Provável vencedor: Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”
Eu não gosto do texto de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Acho excessivamente episódico e sem muitas sutilezas. Porém, foi o vencedor do prêmio no Globo de Ouro e no Writers Guild Awars (curiosamente, na categoria de Melhor Roteiro Original). De novo, como essas premiações são fortes indicativos, o texto de Barry Jenkins e Tarell Alvin McCrany é o favorito.
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No site Formiga Elétrica, também escrevi as críticas de “A Qualquer Custo” e“Lion: Uma Jornada Para Casa”, além da de outros filmes que estão concorrendo em diferentes categorias:
Acompanhem os meus comentários simultâneos à premiação, visitando minha página no Twitter e sintonize na Radio Jovem Pan no dia da cerimônia de premiação. Durante as transmissões, estarei na rádio, ao lado de Carlos Aros, acompanhando os vencedores. Até mais!
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