Aconteceu comigo… poderia acontecer com qualquer um. Gostaria de contar a vocês.
Estes últimos dias têm sido complicados. Neste momento estou tentando lidar com a situação da mudança de escola da Mariana. Quando digo “escola”, refiro-me à educação infantil. Afinal, ela ainda não completou 2 anos de idade.
Gosto de pensar que a escola da Mariana tem o propósito de ajudá-la em seu desenvolvimento e também em sua socialização. Não gostaria de ver minha filha sem contato com outras crianças e permanecendo dentro de casa tendo como sua companhia a televisão.
Minha infância foi assim: solitária. E isso não me ajudou muito em minha formação como pessoa.
Pensamos inicialmente em uma escola de meio período. Assim, ela poderia fazer esta socialização e ainda assim passaria um bom tempo conosco. Como nosso orçamento familiar permite, optamos por uma escola da rede particular.
O primeiro ano foi muito bom e vi realmente progressos constantes no desenvolvimento dela. Ocorre que – em algum momento deste ano de 2016 – as coisas deixaram de funcionar. Não gostaria de ficar discutindo todas as razões aqui. Peço que aceitem que a mudança de paradigma da proposta pedagógica foi ruim. E por conta disso depois de muito refletirmos, optamos por tirar nossa filhota da escola.
Mas é um fato… nem meus horários, nem os da Ana Paula permitiriam que a Mariana deixasse de frequentar uma escola. E novamente, após muita reflexão, resolvemos que faríamos sua matrícula em um Centro de Educação Infantil da prefeitura. Não pela questão financeira, não por algum princípio social, mas simplesmente porque ao visitarmos uma CEI fomos apresentados a uma proposta pedagógica decente e bastante consistente.
O problema é que matricular a Mariana na CEI traria muitas mudanças em sua rotina: horários de sono, permanência na escola das 07:00 até às 16h30, alimentação. Enfim… têm sido complicado. Nesta semana, eu vi minha filha praticamente 30 minutos por dia (na hora em que troco sua roupa e a levo para a escola), pois quando chego em casa a noite, ela já está dormindo.
Ela também sentiu problemas nesta adaptação… chora todos os dias. Não quer largar meu colo quando a levo para a escola e está muito geniosa. E tem sido complicado equacionar tudo isso.
Bom… então chegamos ao dia de hoje. Uma sexta-feira. Como de costume, troquei suas roupas e fralda e a preparei para levá-la até a escola.
“Banho… Banho… Banho!”
Ela me pediu insistentemente para lhe dar banho. Em seu rostinho aquele olhar de quem quer muito alguma coisa. Resolvi dar banho em minha filha.
Aliás, este sempre foi um momento bem legal entre eu e ela. A gente bate papo, eu lavo seu cabelo, ganho abraços apertados e ela ainda me ajuda a passar sabonete (do jeito dela). Vou me lembrar desses banhos até o fim dos meus dias.
Como consequência deste banho não programado, saímos bem atrasados. Chegamos em sua escola por volta de 07h35.
E novamente, ela abriu o berreiro, me agarrou e não queria ir de jeito nenhum. Sei que não poderia esmorecer, então adentrei a escola mesmo com ela chorando. A diretora veio ao meu encontro e depois de uma rápida conversa ela me ofereceu a oportunidade de acompanhar minha filha no café da manhã.
Fomos então ao refeitório… cadeiras e mesas para crianças em idade pré-escolar. Não sou um cara pequeno. Mas me acomodei ali com a baixinha enquanto ela comia rosquinhas de leite e tomava café com leite.
Ela foi se acalmando e a diretora aproveitou para me passar algumas orientações. E enquanto tudo isso acontecia, vieram as crianças de 4 anos de idade para o seu café da manhã.
Vários baixinhos sentaram-se à mesa comigo e com a Mariana. Foi uma experiência diferente… eu, com todo este meu tamanho na cabeceira da mesa, sentado com uma dúzia de crianças que me olhavam avidamente enquanto minha filha me dava um abraço.
Neste aparente estado de caos, um baixinho segura minha mão.
“O senhor é o papai dela?”
“Sou sim.”
“O senhor sempre dá abraço nela?”
A pergunta me deixou pensativo… se eu abraço minha filha? Claro que sim.
“Sim… sempre que posso eu abraço a Mariana.”
O menino em nenhum momento largou minha mão. Ele tinha um olhar curioso, mas tranquilo. Suas perguntas eram movidas pela mais genuína e inocente curiosidade.
O problema é que eu não preparado para o que viria a seguir.
“Meu pai já morreu. E ele nunca me deu um abraço.”
Silêncio da minha parte… o menino continuava a segurar minha mão.
“O senhor poderia me dar um abraço? Eu queria saber como é…”
Aquilo foi um soco direto no estômago. Acho que nem em 1000 anos eu estaria pronto para uma pergunta como aquela. O menino continuou a me olhar. E continuou a segurar minha mão.
“Claro, querido… venha aqui”
E dei um abraço naquele garotinho. Como se ele fosse meu filho. Um abraço de pai. Eu queria poder dizer muitas coisas. Queria entender como uma criança pode ser privada de um gesto tão simples e que felizmente posso oferecer sempre à minha filha.
Depois do abraço, segurei em suas mãos, olhei firme em seus olhos e disse:
“Isto é um abraço. Um abraço de pai. Sempre que você precisar de um, pode me chamar, combinado?”
O menino então me deu um sorrisão. Soltou minha mão e virou-se para pegar seu copo de café com leite e algumas bolachas. Voltei minha atenção para a Mariana. Ela me olhava e apontava o prato.
“Bolacha!”
Eu dei a bolacha… e depois também dei um abraço na baixinha. Pedindo a Deus para que – se um dia eu vier a faltar – que ela possa se lembrar de como era o abraço de seu pai.