30 de dezembro de 2013

O palhaço feliz, Dona Ruth e o tamanduá

Foram três fatos neste fim de ano que mostram uma forma de ação já clássica por parte de totalitários. Apesar de esparsos, estão intimamente conectados. São preocupantes sim, pois mostram que a sanha antidemocrática de certos setores está ganhando força.
  1. Foi bloqueada a página do Facebook do humorista Danilo Gentili. Nem sei o que foi que ele disse, mas acompanho meio de longe a briga dele com setores da esquerda. Marcelo Madureira (ex-Casseta&Planeta) bate bem mais doído, mas certamente por ter mais consistência é pouco contestado. Chegar ao ponto de suspender a página de Gentili é um ato obsceno, intolerante, mesquinho e tosco - adjetivos que já foram dirigidos ao tipo de humor do ex-CQC. Gentili me incomoda por parecer um sujeito feliz. Humoristas, sambistas e professores de matemática são tão melhores quanto forem melancólicos. Mas o fato de ser um anátema não dá a ninguém o direito de achincalhar o moço, tampouco de retirar sua página da internet.
  2. Foi detectado na página do Centro Cultural da Juventude (CCJ)  -  http://ccjuve.prefeitura.sp.gov.br/ - a retirada do nome de Ruth Cardoso, que batizava o local. O Centro fica na Vila Nova Cachoeirinha, que pelas estatísticas é uma das regiões mais violentas da Capital. Ganhou este nome em 2008, na gestão de José Serra, que assim prestava uma homenagem à ex-primeira dama que havia acabado de falecer. Pela página, dá para ver o trabalho que lá é feito. Coisa muito digna. Certamente os frequentadores não se darão pela falta do nome de Dona Ruth, acostumados que estão com violências bem menos sutis.
  3. Rachel Sheherazade é uma jornalista bonita que ficou famosa ao sentar o sarrafo no Carnaval, num vídeo que se espalhou pelo You Tube. Silvio Santos ficou animado com a estampa e a verve da moça e a trouxe para ancorar o jornal do SBT. Rachel é acaciana. Suas opiniões tem algo de uma dissertação de cursinho pré-vestibular. Mas vão contra a maré. Ela é corajosa. Mas ao contrário de Danilo Gentili, não espezinha o politicamente correto. Não foi esposa do político que a petezada mais odeia. Pergunto o que então levaria um professor de filosofia, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a desejar que em 2014 ela "abrace bem forte, após ser estuprada, um tamanduá". O nome do professor é Paulo Ghiraldelli. Obviamente os posts já foram apagados do Twitter, mas a sequência foi documentada e está aqui http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2013/12/27/o-curioso-caso-de-ghiraldelli-contra-sheherazade/.
Um típico tamanduá... (fonte: Wikimedia)
O que levou à ocorrência destes três fatos acima foi a aura de totalitarismo que está começando a feder no país. As três violências foram cometidas por quem se diz de esquerda, contra quem eles consideram de direita. Considerar Ruth Cardoso de direita é coisa de quem não leu Ruth Cardoso. Estes mesmos que não leram Marx, nem Paulo Freire, nem Foucault. Não tem problema não ter lido. Eu não coloco quem leu livros acima do bem e do mal, como Fernando Haddad fez com Stalin ao dizer textualmente:
“Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stálin lia os livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença. Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução, estamos saindo de uma situação stalinista e agora adotando uma postura mais de viés fascista, que é criticar um livro sem ler”.
Stalin também apagava membros do partido de fotos oficiais, para depois apagá-los da mesma forma que a turma do PCC apaga desafetos na Vila Nova Cachoeirinha. A lógica de apagar, ou de desejar acintosamente a desgraça de quem discorda é uma chaga da humanidade. Enquanto houver gente que acha este tipo de postura normal a democracia estará ameaçada. Quando essa gente se sente protegida por um coletivo, por um partido ou por uma cultura vigente, a tendência é que as ações totalitárias saiam do discurso.

O problema é que no Brasil atual temos estes três fatores bem estabelecidos: o coletivo, o partido e a cultura esquerdopata vigente. Não surpreende Haddad ter sido eleito mesmo depois de ter dito a estultice acima. Eles estão se sentindo muito fortes. Já estão entrando em nosso jardim sem tomar precauções.

É bom que a gente diga alguma coisa...

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