28 de abril de 2013

Obeso…

Hoje é mais um daqueles dias em que fico pensando criticamente sobre o caminho que minha vida tomou. A parte ruim desta sensação é relembrar os erros do passado. A parte boa? Não tem uma parte boa.

A única coisa relativamente positiva nisto tudo é pensar que o meu erro pode de algumar forma prevenir que alguma pessoa não faça a mesma sequência de bobagens que fiz. É uma espécie de alerta… um aviso daquilo que pode dar errado se tomarmos o caminho errado.

Muitas pessoas defendem a tese de que – na vida – não podemos nos arrepender de nada daquilo que nós passamos. A justificativa é que no final de tudo, a experiência boa ou ruim serviu para forjar o nosso “eu”. Forjar aquilo que somos em nossa existência.

Por muito anos concordei com isso. Hoje meu pensamento é bem mais simples e direto: isto é uma bobagem. Arrepender-se é para mim, um sinal de que a lição foi aprendida. Nem sempre a tempo de corrigir o problema, mas com certeza de um modo definitivo que nos tornará de alguma forma, um exemplo a ser observado.

Existem duas coisas de que me arrependo muito: perder a faculdade e ter me tornado obeso (mórbido).

Quanto a primeira – ter desperdiçado meu ingresso na faculdade de medicina – acho que já disse muita coisa sobre o tema. Entrei na Unicamp e isto não é para qualquer um. E perdi a faculdade de maneira impiedosa. Já cansei de contar esta história nas versões longas, curtas, dramáticas, históricas, e não tenho mais paciência para isto. A verdade é: eu ingressei em uma faculdade de medicina pública onde meus pais mantiveram meu sustento por lá, mesmo em épocas que o dinheiro estava muito curto. E mesmo assim não soube reconhecer isto. Mesmo assim, priorizei outras coisas. Paguei o preço da imaturidade. Enfim… já falei tantas vezes sobre isso que é até cansativo repetir isto novamente.

A segunda coisa foi ter engordado. Eu nunca fui um peso pena e como sou um cara alto (1,87m… eu achava que era 1,86m, mas eu estive errado por anos quanto a isso) mesmo que eu pesasse uns 95~100 kg a impressão que eu passava era de um cara forte. Mas veio a faculdade de medicina e atingi os 120 kg. Voltei para São Paulo e rapidamente fui para os 140 kg. Por um breve tempo cheguei a voltar para os 118 kg, mas depois só fui engordando. Passei para os 130, depois 140, 150; quase bati nos 180 kg. Uma monstruosidade e eu mesmo admito isso. Hoje eu não sei o meu peso correto (deve ser algo entre 165~175 kg). Ser gordo em si nunca me incomodou. O motivo é bem simples: eu não me visualizo gordo. Quando vejo fotos minhas é que percebo o quão enorme estou. Mas mesmo nas fotos, isto ainda não é fator determinante para eu tomar atitude. Mas nos últimos tempos, alguns episódios têm me incomodado bastante.

Tenho a sensação de que as vezes (só as vezes) minha esposa tem algum tipo de constrangimento em sair comigo para – por exemplo – um shopping. As pessoas olham para meu tamanho, e devem pensar “o que está moça tão bonita estão fazendo com um cara tão gordo?”. Ela não admite (e acho que jamais admitirá), mas eu percebo o quanto estes olhares incomodam a ela.

Outro detalhe está sendo a utilização de transporte coletivo. Por conta da distância entre a USP e minha casa, prefiro usar ônibus e metrô ao invés do carro. Eu ainda passo nas catracas, mas quase que diariamente um gentil cobrador me sugere que eu apenas rode a catraca e desembarque pela porta da frente. Isto quando não solicitam o uso do assento preferencial para obesos. Sim… eles existem.

cadeira obeso

Voltar da faculdade para minha casa é geralmente um constrangimento. Da estação do metrô para minha casa, o melhor meio é utilzar os micro-ônibus, que por natureza já são apertados. As poltronas são estreitas, o corredor é estreito. Um cara do meu tamanho seja sentado, seja em pé, atrapalha bastante o fluxo de pessoas.

O fato é que eu – ciente disso – tomo alguns cuidados ao embarcar. Primeiro, sempre embarco quando a fila está curta, de modo que eu possa escolher o lugar para me sentar (e aí aproveito para sentar naquelas poltronas individuais onde não atrapalho ninguém), nem que isto implique em aguardar 2 ou 3 lotações até conseguir uma posição adequada na fila. Segundo, caso não seja possível sentar em uma poltrona individual, vou para uma poltrona dupla que já tem alguém sentado, pois aí a pessoa já está acomodada e eu fico sentado – digamos – com apenas “meia-bunda”. Neste caso eu atrapalho um pouco o fluxo do corredor, mas menos do que atrapalharia se estivesse em pé.

Não dá para sentar no lado da janela por outra questão: a altura. Esses micro-ônibus foram planejados para pessoas com seus 1,70m e uns 65 kg. Com 1,87m meus joelhos simplesmente não cabem no vão entre poltronas.

Nesta última quinta-feira, voltei de metrô da faculdade e no terminal de ônibus vi que a fila estava quilométrica. Como de praxe, aguardei o momento certo para fazer parte da fila e consegui ser o segundo da fila. A minha frente, apenas uma moça bem jovem. e magrinha.

Ao embarcar, para minha surpresa, a menina sentou-se na única poltrona individual existente. E aí tive que partir para minha outra estratégia. Fui o mais próximo da porta de desembarque e sentei-me na poltrona dupla. E dei passagem para os outros passageiros, já que não tinha nenhuma poltrona dupla ocupada para que eu pudesse sentar ao lado do corredor ainda.

Eis que a lotação começou a encher e um rapaz veio sentar no mesmo banco que o meu. Sugeri a ele que trocassemos de posição e ele se negou. Ele tentou uma vez, tentou duas vezes e percebeu que a posição ali para ele ficaria muito ruim. Levantou-se e apenas comentou para mim:

“Sabia que existem assentos específicos para pessoas como você?”

gordo na poltrona

Ao dizer isso, levantou-se e foi buscar um outro lugar bem mais a frente. E depois disso ninguém mais tentou se sentar ali. Fiz a viagem até o ponto da minha casa bem confortável.

Mas me sentindo um lixo por dentro…

A frase é óbvia e pode paracer ridícula, mas é um fato. Estou gordo. Sou gordo. E muito gordo.

E neste momento isto está me incomodando muito.

E se algum babaca que leu isso pensar em sugerir “Ah… tá incomodado? Então emagreça”, sugiro a seguinte experiência: engorde 70~80 kg acima do peso normal. Permaneça por alguns anos nestas condição e veja depois se é fácil emagrecer.

homem-obeso

Não estou dizendo que estou tentando… não estou dizendo que não é possível… não estou dizendo que gosto de ser gordo… Nada disso.

Estou dizendo que, pela primeira vez na minha vida, estou incomodado por ser gordo. Um fato que eu tinha ciência, mas que não levava tão a sério.

Aliás, nunca tinha falado sobre isso e de certa forma eu omitia esta condição de obesidade. Hoje, me sinto na obrigação de dizer com todas as letras.

Não estou nem um pouco feliz com isso. Aliás, ser gordo está realmente me incomodando muito. Eu me arrependo de ter engordado desta forma descontrolada e quero buscar uma solução pra isso.

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